Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Jacó
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara
Texto Áureo: “Mas Israel estendeu a sua mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, ainda que era o menor e a sua esquerda sobre a cabeça de Manasses, dirigindo as suas mãos avisadamente, ainda que Manasses era o primogênito” (Gn 48.14).
Verdade Aplicada: Se vemos a mão de Deus em todas as coisas, devemos deixar nas mãos de Deus todas as coisas.
Objetivos da Lição:
· Mostrar que as promessas de Deus fortalece os seus filhos.
· Ensinar a depender de Deus.
· Apresentar os pais abençoando os filhos.
Textos de Referência: Gn 48.3,4,13,14,18,19
Introdução: Os muitos episódios da vida de Jacó revelam que Deus continuava sendo o Senhor da história. Nada fugiu do seu domínio; governos e poderes estavam nas suas mãos. Nesta lição, há provas de que quando Deus intervém na história da humanidade homens e mulheres podem ser abençoados de forma imensurável.
Desde o nascimento de Jacó e Esaú descrito em Gn 25.24-26, o livro de Gênesis dedica boa parte de seus escritos à biografia de Jacó, o pai daqueles que constituiriam mais tarde a nação eleita de Deus, a nação de Israel. As principais circunstâncias da vida de Jacó são descritas no decorrer do texto bíblico, de forma que, em todas elas é possível ver a ação de Deus em sua vida manifestando a sua soberana vontade quanto a sua escolha como aquele que herdaria as promessas feitas a Abraão e Isaque. Esta escolha, no entanto é por graça e não por merecimento, assim Deus manifestaria toda sua graça e bondade para com Jacó; Ele, porém utilizar-se-ia dos diversos acontecimentos na vida de seu escolhido a fim de discipliná-lo, transformá-lo e abençoá-lo de forma imensurável, o que se dá através do reencontro de Jacó com José. É diante de tais fatos que Jacó no fim de seus dias, vislumbrando a ação de Deus em seu passado e presente, pode dirigir-se a seu filho José dizendo-lhe as seguintes palavras: “Eu não cuidara ver o teu rosto; e eis que Deus me fez ver a tua semente também” (Gn 48.110). Tem-se assim, conforme escreve C. H. Mackintosh (2001, pp. 284, 285) “um lindo exemplo do modo como o nosso Deus sempre se eleva acima de todos os nossos pensamentos, e Se mostra melhor que todos os nossos temores". Ainda acerca disto, o mesmo autor escreve:
“À vista da natureza José estava morto; enquanto que para Deus ele estava vivo e sentado no lugar de mais elevada autoridade, a seguir ao trono. ‘As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam’ (1 Co 2.9). Permita Deus que as nossas almas possam elevar-se na compreensão de Deus e dos Seus caminhos”.
Sl 40.5: “Muitas são, Senhor meu Deus, as maravilhas que tens operado para conosco, e os teus pensamentos não se podem contar diante de ti; se eu os quisera anunciar, e deles falar, são mais do que se podem contar”.
Sl 139.16,17: “Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia. E quão preciosos me são, ó Deus, os teus pensamentos! Quão grandes são as somas deles!”
Jr 29.11: “Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.
1. Jacó e a bênção de Deus (Gn 48.3-13) – A Bíblia diz que, algum tempo depois, disseram a José que seu pai estava doente. Então José foi visitá-lo, levando consigo seus dois filhos, Efraim e Manasses. Ao saber que eles estavam chegando, Jacó no seu leito, após um esforço sobre humano conseguiu sentar na cama. Em seguida, disse a José que Deus o Todo-Poderoso havia aparecido a ele na cidade de Luz (Betel), e que o teria abençoado.
O texto de Gn 48 mostra os momentos finais da vida de Jacó, quando então ele já se encontrava estabelecido no Egito. Jacó viveu na terra do Egito 17 anos, sendo que os anos de sua vida foram de cento e quarenta e sete anos (ver Gn 47.28). Quando Jacó chegou ao Egito, José já tinha dois filhos, sendo estes Manassés e Efraim, os quais lhe nasceram antes que viesse o ano de fome (ver Gn 41.51,52). Jacó encontrava-se agora enfermo e José vem até ele juntamente com seus dois filhos. Jacó traz então em memória, o momento em que estando ele retornando de Padã-Arã, depois de sua estada em Siquém, Deus lhe aparece novamente, renovando a promessa que lhe havia sido feita por ocasião de sua fuga de Esaú seu irmão (ver Gn 28.10-14). Naquele momento, Deus se revelou a Jacó como o “Deus Todo-Poderoso”, indicando-lhe com isto que em suas mãos estava todo poder para cumprir as promessas que lhe haviam sido feitas tanto no que diz respeito a multiplicação de sua descendência, quanto no que diz respeito a possessão da terra prometida. É num ato de fé, com a certeza do cumprimento da promessa de Deus a seus descendentes, que Jacó então, na seqüência, se dirigiria a José para requerer dele seus dois filhos como sendo seus.
Gn 35.10-13: “E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel. Disse-lhe mais Deus: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; frutifica e multiplica-te; uma nação, sim, uma multidão de nações sairá de ti, e reis procederão dos teus lombos; e te darei a ti a terra que tenho dado a Abraão e a Isaque, e à tua descendência depois de ti darei a terra. E Deus subiu dele, do lugar onde falara com ele”.
Gn 48.1-4: “E aconteceu, depois destas coisas, que alguém disse a José: Eis que teu pai está enfermo. Então tomou consigo os seus dois filhos, Manassés e Efraim. E alguém participou a Jacó, e disse: Eis que José teu filho vem a ti. E esforçou-se Israel, e assentou-se sobre a cama. E Jacó disse a José: O Deus Todo-Poderoso me apareceu em Luz, na terra de Canaã, e me abençoou. E me disse: Eis que te farei frutificar e multiplicar, e tornar-te-ei uma multidão de povos e darei esta terra à tua descendência depois de ti, em possessão perpétua”.
1.1 Deus, o Todo-Poderoso – Jacó sedimentou, na família da Aliança, a doutrina de que Deus tem todo o poder. Aqui, neste texto, Ele é chamado de Todo-Poderoso (Hebraico El Shaddai). Era Jacó ensinando a idéia de um Deus que supre todas as necessidades. O filho de Isaque esteve falando do poder infinito de Deus; dizendo que Ele não estava limitado a fazer somente o que já fez. De fato, Jacó estava ensinando as futuras gerações que Deus é capaz de fazer mais do que já fez (Mt 3.9; Sl 24.8; Gn 18.14; Jr 32.17,27). No entanto, sempre fará qualquer coisa compatível com seu caráter. Por exemplo: Deus não mente, não peca, não nega a si mesmo e nem é tentado pelo mal (Tt 1.2; 2 Tm 2.13; Tg 1.13). Ou seja, a sua onipotência é o que lhe permite fazer tudo o que for conforme a sua santa vontade.
Gn 18.14: “Haveria coisa alguma difícil ao Senhor? Ao tempo determinado tornarei a ti por este tempo da vida, e Sara terá um filho”.
Sl 24.8: “Quem é este Rei da Glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na guerra”.
Jr 32.17,27: “Ah Senhor Deus! Eis que tu fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido; nada há que te seja demasiado difícil. Eis que eu sou o Senhor, o Deus de toda a carne; acaso haveria alguma coisa demasiado difícil para mim?”
Mc 10.27: “Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis”.
Lc 1.37: “Porque para Deus nada é impossível”.
Nm 23.19: “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria?”
2 Tm 2.13: “Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo”.
Tt 1.2: “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos”.
Hb 6.18: “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta”.
Tg 1.13: “Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”.
1.2 Jacó abençoa os filhos de José (Gn 48.13) – Assim como Deus havia abençoado Jacó, chegou a hora de abençoar os seus descendentes. Este é o momento de abençoar os filhos de José; e Jacó não somente abençoou as crianças como também mais tarde os adotou como se fossem seus próprios filhos. Isso explica por que Manasses e Efraim, filhos de José dão nome a duas das doze tribos de Israel. Na verdade, após a sua declaração de adoção (v 5), o velho patriarca marcou profundamente a futura estrutura da nação de Israel. Efraim, filho de José, passaria a liderar a todos os doze irmãos, pois Ruben havia perdido a sua chefia (1 Cr 5.1,2).
Gn 48.5,6: “Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manassés serão meus, como Rúben e Simeão; mas a tua geração, que gerarás depois deles, será tua; segundo o nome de seus irmãos serão chamados na sua herança”.
Conforme já descrito anteriormente, com a certeza do cumprimento da promessa de Deus a seus descendentes, Jacó naquele momento em que ele estava enfermo, se dirige a José e requer dele seus dois filhos como sendo seus. Jacó estava assim garantindo aos descendentes de José a possessão da terra prometida, pois pode ser que mais tarde, pelo fato de Manasses e Efraim não terem habitado na terra da promessa como todos os demais filhos de Jacó, seus filhos viessem a tentar impedi-los de tomarem posse de sua herança. Jacó os adotando como seus garante que tal alegação não viesse, porventura, um dia a ser feita. Manasses e Efraim passam a ocupar o lugar da tribo de José propriamente dita e da tribo de Levi que não teria herança na terra prometida, pois esta tribo seria chamada para o ofício sacerdotal, e assim o número de doze tribos na possessão da terra prometida é mantido. Além disto, Jacó coloca Efraim e Manassés no lugar de Rúben e de Simeão, e desta forma, ele dá a José o direito de primogenitura, já que Rúben perde seu direito por ter profanado o leito de seu pai, e Simeão perde seu direito por ter juntamente com Levi, arquitetado o plano contra os siquemitas.
Gn 35.22: “E aconteceu que, habitando Israel naquela terra, foi Rúben e deitou-se com Bila, concubina de seu pai; e Israel o soube. E eram doze os filhos de Jacó”.
1 Cr 5.1,2: “Quanto aos filhos de Rúben, o primogênito de Israel (pois ele era o primogênito; mas porque profanara a cama de seu pai, deu-se a sua primogenitura aos filhos de José, filho de Israel; de modo que não foi contado, na genealogia da primogenitura, porque Judá foi poderoso entre seus irmãos, e dele veio o soberano; porém a primogenitura foi de José)”.
Gn 34.25: “E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um a sua espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens”.
Gn 49.5-7: “Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu secreto conselho não entre minha alma, com a sua congregação minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua teima arrebataram bois. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; eu os dividirei em Jacó, e os espalharei em Israel”.
Jacó dá a José o direito de primogenitura, direito este que garantia ao filho mais velho porção dobrada da herança do pai e, além disto, autoridade sobre os demais irmãos. José recebe em lugar de Rúben este direito de primogenitura, sendo que a porção dobrada da herança se cumpriria quando os descendentes de seus dois filhos, Manasses e Efraim tivessem sua possessão na terra da promessa. Em relação a autoridade sobre os demais irmãos, o futuro mostraria a tribo de Efraim sendo revestida desta autoridade, já que Josué, um dos espias, descendia de Efraim (ver Nm 13.8), tendo sido ele escolhido, juntamente com o sacerdote Eleazar, para dividir a terra (ver Nm 34.17). Além disto, mais tarde, Jeroboão, provavelmente da tribo de Efraim, torna-se rei sobre todo Israel e assim, ele edifica a Siquém, no monte de Efraim, onde passa a habitar, o que indica a influência desta tribo sobre todas as demais tribos que passam então a constituir o Reino do Norte depois da divisão do Reino de Israel por causa da idolatria de Salomão (ver 1 Rs 12.1-25).
Gn 48.12-14: “Então José os tirou dos joelhos de seu pai, e inclinou-se à terra diante da sua face. E tomou José a ambos, a Efraim na sua mão direita, à esquerda de Israel, e Manassés na sua mão esquerda, à direita de Israel, e fê-los chegar a ele. Mas Israel estendeu a sua mão direita e a pôs sobre a cabeça de Efraim, que era o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manassés, dirigindo as suas mãos propositadamente, não obstante Manassés ser o primogênito”.
Depois que Jacó traz em memória o momento em que Deus se revelara a ele renovando-lhe a sua promessa, ele traz também em memória o momento da morte de Raquel (ver Gn 48.7), sua esposa amada, fato este que indica que a presença e a comunhão com Deus não impede que os servos do Senhor passem por momentos de tristeza e de dor. Tal momento se repetiria na vida de Jacó mais uma vez, quando então ele enfrentaria ainda, a dor da perda de José, o qual, durante anos, ele pensa ter sido morto por uma besta-fera (ver Gn 37.31-35). As lembranças de Jacó são, no entanto interrompidas, quando ele vê os filhos de José, assim como fora interrompida sua dor, quando soube que seu filho José encontrava-se vivo (ver Gn 45.28; 46.30). Atentando então para a presença dos filhos de José, porém não podendo reconhecê-los, já que seus olhos estavam carregados de velhice, Jacó pergunta quem seriam aqueles jovens diante dele (ver Gn 48.8). José responde mostrando a Jacó serem eles os filhos que Deus lhe dera no Egito, o que os diferenciava dos filhos de seus irmãos que teriam então sido gerados na terra de Canaã. Jacó, porém sem fazer diferenciação alguma, faz com que os filhos de José se cheguem a ele e assim ele os beija e os abraça (ver Gn 48.9,10). É sob este clima de não distinção alguma por parte de Jacó entre os descendentes nascidos na terra de Canaã e aqueles nascidos no Egito, que José inclina-se à terra diante da face de Jacó, reconhecendo assim a importância de seus filhos serem abençoados pelo patriarca que trazia sob si a bênção de Abraão e Isaque, a qual lhe tinha sido conferida por Deus em sua soberania. De forma natural, José toma seus filhos e os posiciona, Efraim, à esquerda de Israel, e Manassés, seu primogênito à direita de Israel, pois é reconhecendo aquilo que é imposto pela natureza das coisas que José entende até então como deveria ser conferida a bênção de Jacó sobre seus filhos. A atitude de Jacó, no entanto, na seqüência vai lhe mostrar que as coisas não se sucederiam de acordo com os seus pensamentos, mas sim de acordo com os pensamentos que Deus tinha acerca de sua descendência.
Conforme já descrito no ponto anterior, conscientemente Jacó cruza os braços e assim ele abençoa Efraim e Manasses invocando sobre eles a bênção do Deus de Abraão e de Isaque que o sustentara desde o momento de seu nascimento até aquele momento e que o livrara de todo mal. Contemplando pela fé os desígnios de Deus quanto a descendência de Efraim, Jacó prevê que a tribo de Efraim seria mais numerosa e mais influente que a tribo de Manassés na futura nação de Israel que seria então ainda estabelecida. José ao observar a atitude de seu pai, supondo tratar-se de um engano, tenta persuadir Jacó a descruzar os braços, Jacó, porém mostra que sua atitude era fruto de sua comunhão com Deus e do conhecimento que lhe fora transmitido pelo Senhor quanto aos seus descendentes, e não fruto de sua própria vontade.
Gn 48.15-20: “E abençoou a José, e disse: O Deus, em cuja presença andaram os meus pais Abraão e Isaque, o Deus que me sustentou, desde que eu nasci até este dia; o Anjo que me livrou de todo o mal, abençoe estes rapazes, e seja chamado neles o meu nome, e o nome de meus pais Abraão e Isaque, e multipliquem-se como peixes, em multidão, no meio da terra. Vendo, pois, José que seu pai punha a sua mão direita sobre a cabeça de Efraim, foi mau aos seus olhos; e tomou a mão de seu pai, para a transpor de sobre a cabeça de Efraim à cabeça de Manassés. E José disse a seu pai: Não assim, meu pai, porque este é o primogênito; põe a tua mão direita sobre a sua cabeça. Mas seu pai recusou, e disse: Eu o sei, meu filho, eu o sei; também ele será um povo, e também ele será grande; contudo o seu irmão menor será maior que ele, e a sua descendência será uma multidão de nações. Assim os abençoou naquele dia, dizendo: Em ti abençoará Israel, dizendo: Deus te faça como a Efraim e como a Manassés. E pôs a Efraim diante de Manassés”.
O comentarista faz uso neste ponto do texto de C. H. Mackintosh (2001, p. 284) que segue descrito na íntegra:
“O fim da carreira de Jacó encontra-se em agradável contraste com todas as cenas da sua história. Faz-nos lembrar uma tarde serena, depois de um dia tempestuoso: o sol, que durante o dia esteve oculto da vista por neblinas, nuvens, e nevoeiros, põe-se em majestade e brilho, dourando com os seus raios o céu ocidental, e mostrando a perspectiva agradável de uma manhã clara. Assim acontece com o nosso velho patriarca. A superioridade, a avidez, a astúcia, a atividade, os expedientes, a chicana, os temores egoístas – todas essa nuvens carregadas da natureza e da terra parece terem passado, e ele manifesta-se em toda a calma elevada da fé, para dar bênçãos e transmitir dignidades, naquela santa habilidade que só a comunhão com Deus pode conceder. Embora os olhos estejam obscurecidos, a visão da fé é penetrante. Ele não vai ser enganado quanto à posição destinada a Efraim e Manassés nos desígnios de Deus. Não tem que estremecer, como seu pai Isaque, em capítulo 27.33, ‘estremeceu de um estremecimento muito grande’, em face de um erro quase fatal. Antes pelo contrário. A sua resposta ao filho menos instruído é, ‘eu sei meu filho, eu sei’. O poder de senso não tem, como no caso de Isaque, obscurecido a sua visão espiritual. Aprendera na escola da experiência a importância de se manter agarrado aos propósitos divinos, e a influência da natureza não pode afastá-lo deles”.
2.2 Adotando os filhos de José – A graça de Deus trouxera José de volta para Jacó. Ele havia “perdido” José anteriormente, mas depois, subitamente, o recuperara; e não somente vivo, mas também elevado à posição de governador do Egito. Passou o resto da sua vida em companhia de José e agora tinha a felicidade de beijar e abraçar os netos, filhos de José, de poder adotá-los e abençoá-los. Os caminhos de Deus são inescrutáveis (Rm 11.22). Os filhos de José foram adotados por Jacó como seus, elevando-os a uma condição de igualdade aos seus filhos Ruben e Simeão. A adoção de Manasses e Efraim permitiu que eles assumissem posição como agentes pessoais do pacto abraâmico “Agora, pois, os teus dois filhos, que te nasceram na terra do Egito, antes que eu viesse a ti no Egito, são meus: Efraim e Manasses serão meus, como Ruben e Simeão” (Gn 48.5).
O comentarista já havia falado no ponto 1.2 acerca da adoção dos filhos de José por Jacó, assim este ponto, conforme descrito acima é repetitivo com respeito a esta questão. Há, porém ainda algo interessante a ser considerado em relação à adoção dos filhos de José. Manasses e Efraim são ambos, frutos da união de José com uma jovem egípcia, conforme descrito em Gn 41.50: “E nasceram a José dois filhos (antes que viesse o ano de fome), que lhe deu Asenate, filha de Potífera, sacerdote de Om”. Sendo José “um tipo de Cristo” este fato lembra a união de Cristo com a igreja, e sendo assim, Manasses e Efraim podem ser vistos como uma simbologia dos cristãos gentílicos, gerados a partir de um novo nascimento, passando estes a serem adotados como filhos de Deus, e assim, incorporados à família de Deus constituída tanto por judeus quanto por gentios, assim como fica, de certa forma, constituída a família de Jacó a partir da adoção de Manasses e Efraim.
Rm 8.15: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai”.
Ef 1.5,6: “E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado”.
O tipo de afirmação onde alguns pregadores diriam que Jacó era um homem que não tinha fé ou estava com algum pecado não confessado faz parte da famigerada teologia da prosperidade ou da confissão positiva. Tais teologias, no entanto são um engodo, e apesar disto elas arrastam multidões. Nem sempre uma pessoa com algum tipo de enfermidade, ou qualquer outro problema recebe a cura ou a solução de seu problema; isto não significa, porém que tais pessoas não têm fé para alcançarem a bênção e nem mesmo que tais pessoas teriam algum pecado não confessado. O fato é que enquanto os seres humanos, ainda que estes sejam crentes fiéis a Deus, estiverem vivendo no corpo terreno e não em um corpo glorioso, eles estão sujeitos às intempéries do tempo. Os cristãos em sua confiança em Deus e em seu poder podem e devem recorrer a Ele, em qualquer situação, para que seus problemas sejam solucionados, no entanto, nem sempre a resposta de Deus vem de encontro àquilo que se espera, e ainda que muitas vezes, isto não venha a ser compreendido, o que os crentes devem ter em mente é que Deus é soberano em suas atitudes e que em suas mãos, Ele tem o controle de todas as situações.
2 Co 4.16: “Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia”.
2 Co 12.7-9: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor para que se desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo”.
3. Jacó cruza as mãos – Então José tirou os dois do colo do seu pai, ajoelhou-se e encostou o rosto no chão (Gn 48.12). Um lindo exemplo na Palavra de Deus de um filho que soube honrar o seu pai. De modo natural, José posicionou seus filhos diante de seu pai para que fosse abençoado por ele. José compreende que, apesar de todo o sucesso, que ele havia conseguido, ainda assim a autoridade paterna não podia ser questionada. Quantos hoje, que, por conseguirem se destacar com determinado sucesso, já se acham tão importantes que não querem se submeter a autoridades instituídas por Deus. A capacidade ou talento não credenciam ninguém desonrar seu semelhante, ou desrespeitar a quem quer que seja. O exemplo de José nos inspira a ter uma vida de submissão inteligente e não de subserviência.
Ef 6.2: “Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa”.
Cl 3.20: “Vós, filhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor”.
Hb 13.17: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil”.
1 Pe 5.5: “Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”.
3.1 Os caminhos de Deus – O profeta Isaías disse que os pensamentos do Senhor não eram os pensamentos dos homens e que Deus não agia como eles. Assim como o céu estava muito acima da terra, também os pensamentos de Deus e as suas ações eram muito além das suas propostas (Is 55.9). Através de seus caminhos, Deus viajou com Jacó durante anos para que sua natureza fosse formada nele. Não será diferente com os crentes de hoje, se, da mesma forma, tiverem interesse de ter a companhia de Deus. A comunhão que se tem com Deus determinará o tipo de espiritualidade de cada um (Sl 1.1-6).
Is 55.8,9: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.
Rm 11.33: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”
2 Pe 1.4-8: “Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, e à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, e à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”.
3.2 Jacó abençoa os filhos de José – Jacó colocou a mão direita sobre a cabeça de Efraim e a esquerda sobre a cabeça de Manasses. Isso foi estranho para José que procurou descruzar as mãos de Jacó (Gn 48.18). A mão direita era o emblema do poder e da bênção, da retidão e da eficácia. José agiu de maneira natural, já que Manasses era o primogênito e deveria ter a mão direita de Jacó sobre ele, mas Jacó estava agindo pela orientação do Espírito Santo. “Ma Israel estendeu a sua mão direita, e a pôs sobre a cabeça de Efraim, ainda que fosse o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manasses, dirigindo as suas mãos “avisadamente”, ainda que Manasses fosse o primogênito” (Gn 48.14). Jacó pode abençoar os seus netos, pois triunfou com Deus e em Deus. Jacó foi um homem vitorioso porque Deus pelejara com ele, e foi um patriarca triunfante porque realizara uma obra que agradou a Deus. Hoje se pode dizer que há vitória pela obra que Jesus realizou, na cruz, pela humanidade.
Conforme já descrito nos pontos anteriores a bênção de Jacó sobre Efraim e Manasses é fruto de sua comunhão com Deus e de seu conhecimento quanto àquilo que lhe fora revelado pelo Senhor. Em Hb 11.21, o autor de Hebreus faz menção a este acontecimento, quando então ele diz: “Pela fé Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos filhos de José, e adorou encostado à ponta do seu bordão”. O fato do autor de Hebreus se referir a Jacó, como que tendo adorado encostado à ponta do seu bordão por ocasião da bênção de Efraim e Manassés indica a total dependência e confiança de Jacó em relação a Deus quanto àquilo que ele acabara de revelar através de suas palavras dirigidas a Efraim e Manasses. Jacó estava já próximo da morte, e sendo assim, não haveria nada que ele poderia fazer para que as coisas viessem a se suceder da forma como ele se manifestara. Ele, porém encostado à ponta do seu bordão, deixa tudo nas mãos do Senhor adorando-o, pois ele sabia que seria por meio da ação de Deus que os fatos se concretizariam exatamente como ele proferira. É desta forma que a Bíblia mostra a total transformação de Jacó, pois aquele que anteriormente tentara por meio de seus próprios métodos, trazer a efeito os planos de Deus para sua vida, aprendera no decorrer de sua carreira a se colocar em total dependência de Deus, para que somente por meio dEle, os planos de Deus quanto a ele próprio e quanto a sua descendência viessem então a ter a sua plena concretização.
2 Co 3.18: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.
Fp 3.13,14: “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus ”.
3.3 O amor gratuito de Deus (Gn 48.19,20) – A atitude inesperada de Jacó em não abençoar devidamente o primogênito Manasses como bem queria seu filho José, foi inesperada e surpreendente. Ele fez algo contra a educação teológica de toda a sua vida. “E José disse a seu pai: não é assim... Eu sei meu filho... A resposta de Jacó esteve imersa na ironia. Quando jovem ele havia feito seu pai Isaque abençoá-lo sem que soubesse. Mas, agora Jacó quase cego, sabe deliberadamente o que está fazendo. Seu amor gratuito é comparado ao inigualável amor de Deus. Jacó sabe que ser o mais moço não é posição de desvantagem. Ele compreende que Deus não vê posição, mas caráter.
O fato que está implícito na escolha tanto de Jacó quanto de Efraim não tem relação alguma com posição de vantagem ou de desvantagem. Nem Jacó, nem Esaú demonstravam em seu caráter, mérito para a escolha de Deus, no entanto, Deus em sua soberana vontade escolhe Jacó para através dele dar continuidade a linhagem da promessa feita a Abraão e Isaque. Da mesma forma como a escolha feita por Deus em relação à Jacó foi feita em graça, também a escolha de Efraim foi feita em graça. Se Deus , em sua onisciência fosse se basear na questão do mérito, a tribo de Efraim jamais teria sido escolhida para estar na posição que ocupou sob a futura nação de Israel, pois esta tribo tão logo que subiu ao poder, se corrompeu, desviando-se pelos caminhos da idolatria e influenciando todas as demais tribos do Reino do Norte, o que acabou por fim culminando na queda do Reino de Israel.
Referências Bibliográficas:
C.H. Mackintosh, Estudos Sobre o Livro de Gênesis, 2001, 3ª Ed., Depósito de Literatura Cristã, Diadema, SP.
Um comentário:
Irmã Magda, a sua contribuição para a Obra de Deus certamente será reconhecida e recompensada pelo Senhor Jesus. Saiba que você não só colabora na EBD da sua Igreja, mas também de muitas outras, através deste blog. Os seus comentários servem de subsidios para minhas aulas também. Que Deus continue te abençoando e fazendo sempre de ti uma pessoa abençoadora!
Palmas-To
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