Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Apóstolo Paulo
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara
Texto Áureo: “Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía” (Gl 1.23).
Verdade Aplicada: Cada cristão tem o dever de ajudar espiritualmente ao seu semelhante.
Objetivos da Lição:
· Acompanhar; pelos registros de Atos o desenvolvimento espiritual de Paulo.
· Apresentar o zelo evangelístico de Paulo.
· Conhecer a sua dificuldade de permanecer em Jerusalém.
Textos de Referência: At 9.20,21,25-28
Introdução - Depois que Paulo reconfigurou a sua mente através da sua conversão a Cristo, o que não levou muito tempo, dada a sua vontade inquebrantável de crescimento, ele passou a viver de acordo com as suas novas convicções. Isso evidenciou a profunda transformação que sofreu no caminho de Damasco, e essa transformação, a cada tempo, tanto mais se evidenciava. Será estudado aqui como se processou o desenvolvimento espiritual de Paulo.
At 9.17,18: “E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado”.
Depois de três dias sem ver, não comer e nem beber, Paulo recebeu a visita de Ananias, e este lhe impôs as mãos de forma que ele viesse a ser cheio do Espírito Santo. A experiência de Paulo no caminho de Damasco com o Senhor Jesus Cristo o levou a experimentar um novo nascimento; sua experiência em casa de Judas na seqüência faz, por conseguinte um paralelo com a dos discípulos no dia de Pentecostes quando então todos foram cheios do Espírito Santo. É através da presença do Espírito Santo conduzindo Paulo em todos os seus caminhos que a transformação nele efetuada seria cada mais evidenciada.
2 Co 3.18: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.
1. O esforço evangelístico de Paulo – A convivência com os irmãos de Damasco era muito boa, disso ninguém duvida, mas Paulo era uma pessoa com o temperamento e a vontade de demonstrar gratidão a Deus, e crescer espiritualmente. Sentia a necessidade de compartilhar tão logo a sua dramática conversão, e quem de fato era Jesus de Nazaré.
1.1. Pregando nas sinagogas (At 9.20) – O autor de Atos omite o fato de Paulo ter viajado para Arábia, mas Paulo, ao escrever aos gálatas, informa que, três anos após a sua conversão, ele foi das regiões da Arábia paia Jerusalém (Gl 1.17-18). Entretanto, no texto supracitado, Paulo expõe o fato de ter estado em Damasco novamente, e, conforme os maiores detalhes escritos por Lucas lá esteve pregando. Fica uma pergunta no ar: Por que teria Paulo ido à Arábia, e o que ficou fazendo naqueles três anos? Embora não tenhamos detalhes, sabemos que ele ali parou para refletir sobre a sua decisão, visando-a fortalecer. Todavia é certo que ele procurou falar de Jesus causando algum tipo de problema na Arábia. Por isso retomou a Damasco, e, aos sábados, vestia-se com os trajes de fariseu, e, indo às sinagogas, dali pregava acerca de Jesus ressuscitado.
At 9.19,20: “E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. E logo, nas sinagogas, pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus”.
Gl 1.15-17: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco”.
O texto de At 9.19 revela de certa forma o modo como Paulo foi recebido, após seu batismo, pelos demais discípulos em Damasco: “Esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco”. Logo na seqüência, o texto informa o teor da mensagem de Paulo nas sinagogas: “Pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus”. A mensagem de Paulo é desde o princípio surpreendente. Ela revela o amplo entendimento que ele passou a ter em sua experiência na estrada de Damasco acerca de Jesus. Ele não era apenas “o Cristo” o Messias esperado pela nação de Israel segundo as promessas feitas por Deus, mas o “Filho de Deus”, ou seja, Deus em toda sua plenitude. O texto de Atos não informa quanto tempo Paulo permaneceu em sua primeira estada em Damasco, mas fica evidente, segundo Gl 1.15-17 que o relato de At 9.19-22 não é contínuo já que em algum momento Paulo se isentou de Damasco, partindo para a região da Arábia, para então posteriormente ele retornar a Damasco.
1.2. O espanto dos que o ouviam (At 9.21) – Os comentários sobre a conversão de Paulo se tomaram notórios no seio da igreja (Gl 1.23). Era uma enorme surpresa ouvir o jovem Paulo muito bem trajado como fariseu, aos sábados, nas sinagogas de Damasco. Ele era um ótimo orador, mas ouvi-lo, agora, apresentando o Nazareno morto na cruz, como o Cristo prometido, causava espanto. Afinal, não era Paulo aquele que antes recebera cartas para prender os dissidentes? Como agora procura convencer que esse Jesus é o Cristo? Realmente o espanto e a confusão impregnavam a plateia.
At 9.21,22: “Todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?”.
Gl 1.22-24: “E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo; mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía. E glorificavam a Deus a respeito de mim”.
Os fatos referentes à conversão de Paulo tornaram-se notórios em Damasco, conforme pode-se perceber pelos relato de At 9.21. Isto não implica necessariamente em dizer que Paulo era um ótimo orador. Mais tarde, ele próprio iria dizer por carta aos coríntios, o fato de ser “rude” na palavra, o que talvez indique não ser ele um exímio orador.
2 Co 11.5,6: “Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós”.
1.3. Seu esforço apologético (At 9.22) – Paulo se esforçava para convencer os membros das sinagogas locais de Damasco, quanto à messianidade de Jesus de Nazaré. E, inicialmente, ele encontrava certa dificuldade, por causa da incredulidade e, possivelmente, das muitas altercações por parte dos ouvintes mais conservadores. Entretanto, com o passar do tempo, observamos que Paulo se fortalecia cada vez mais, quer dizer, mais em graça, e mais em argumentação e persuasão, de maneira que seus ouvintes começaram a ficar confusos quanto a sua opinião original. O ser humano pode chegar a conhecer a verdade, mas preferir a tradição na qual recebeu dos seus pais, ou mesmo por uma questão de orgulho se recusar a mudar da opinião que tanto creu, ensinou, ou discutiu. Por isso o texto de Lucas nos diz que “se esforçava muito mais” num esforço apologético.
At 9.22: “Saulo, porém, se esforçava muito mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo”.
O discurso de Paulo acerca de Jesus em Damasco leva muitos judeus a estarem atônitos, pois não era somente o comportamento de Paulo em relação aos discípulos de Jesus que havia se modificado. Paulo demonstrava com base nas Escrituras que Jesus era o Cristo, ou seja, o Messias prometido por Deus a Israel e isto confundia os judeus, pois a aceitação desta verdade entre eles, sugeriria uma mudança de comportamento em relação a Jesus, por parte daqueles que lhe ouviam o que, devido a tradição, não era uma atitude confortável de ser tomada.
2. Fugindo de Damasco – Quando se entende que o governante de Damasco era alguém delegado pelo rei Aretas IV, da Arábia, conclui-se facilmente que a estada de Paulo de Tarso lá na Arábia não foi tão tranqüila como se imagina. Sua própria palavra define como foi: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem” (2 Co 11.32). O contexto imediato do que Paulo trata escrevendo aos coríntios fala das humilhações, perseguições, açoites, fugas, etc., vividas ao longo de seu ministério exatamente nessa época. Assim, pode-se supor que essa indisposição não foi apenas por causa de seu trabalho em Damasco, mas na Arábia também.
Conforme já considerado anteriormente, o texto de At 9.19-22 não é contínuo já que em algum momento Paulo se isentou de Damasco partindo para a região da Arábia, para posteriormente ele retornar a Damasco. A região da Arábia não era somente a Arábia de hoje, mas o grande reino dos nabateus que naquele tempo se estendia até Damasco, tendo como capital Petra (localizada na região de Edom). Em conformidade com 2 Co 11.32 é provável que Aretas manteve Damasco sob seu poder em algum período da história. De acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 111), este Aretas é o rei Aretas IV, Filopatris, o último e mais famoso dos reis nabateus desse nome (c. de 9 a .C. – 40 d.C.). Este rei foi confirmado no governo de seu reino subjugado a Roma por Augusto, ainda que com alguma relutância, visto que o havia tomado sem permissão. Sua filha casou-se com Herodes Antipas, mas divorciou-se dele quando ele desejou casar-se com Herodias. Aretas declarou guerra contra Herodes e o derrotou em 36 d.C. De conformidade com Josefo (Antiguidades i. 12.4), sob Aretas as fronteiras do reino nabateu se expandiram desde o Eufrates até o mar Vermelho. Ainda, de acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 1085) o mais antigo rei nabateu que se conhece foi o Aretas I, c. de 170 a .C. Este foi capaz de salvaguardar as caravanas, e desta forma comerciantes nabateus estenderam o comércio desde o sul da Arábia e desde o golfo pérsico até Petra, de onde foi levado até à costa, particularmente, Gaza. Nebaiote, filho de Ismael e cunhado de Edom (Gn 25.13; 28.9) possivelmente deve ser considerado ancestral dos nabateus.
2.1. Conselho de morte (At 9.23,24) – A pregação de Paulo era forte, persuasiva, e cheia de poder. Ela deixava alguns confusos, convencia a outros e o resultado é que, com o passar dos dias, ele se tornava cada vez mais influente. Vendo que Paulo caia na graça de muitos, e que, com uma pregação convincente, crescia cada vez mais, os religiosos judeus, reunidos em conselho local, concluíram que nada havia que pudesse ser feito, senão eliminarem Paulo. É importante lembrar que o Príncipe deste mundo não ficaria de braços cruzados à medida que o seu reino estava sendo saqueado, ele reagiria tentando corromper ou eliminar o servo de Deus a ele dedicado. Caso não conseguisse, dificultaria ao máximo para que o obreiro de Cristo desistisse de fazer a obra de Deus.
At 9.23,24: “E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho entre si para o matar. Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida”.
O “passado muitos dias” de At 9.23 talvez se refira aos decorridos três anos nos quais Paulo permaneceu na Arábia, retornando então a Damasco. O texto parece indicar que em seu retorno a Damasco, Paulo continuava pregando nas sinagogas acerca da Pessoa do Senhor Jesus, e isto levou os judeus a planejarem a sua morte, o que, no entanto veio ao conhecimento de Paulo, com certeza como providência de Deus para preservar a sua vida, já que os planos de Deus em relação a Paulo se estendiam para além das fronteiras da Arábia e de Damasco.
2 Co 4.8,9: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”.
2 Tm 3.11,12: “Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou; e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”.
2.2. A fuga de Paulo (At 9.25) – Havia um entrosamento muito firme entre Paulo e os discípulos dali de Damasco, e, pelo risco que eles assumiram em salvá-lo, isso ficou claramente demonstrado. Paulo não era diferente de seu mestre. Sua influência fazia com que muitos o odiassem, mas também fazia com que vários outros fossem capazes de arriscar a própria vida por ele (Rm 16.4). Quando Paulo teve conhecimento do estratagema contra sua vida teve de fugir, mas, qual o por quê de tudo isso? A resposta está no seu trabalho que: incomodava, crescia, e se fortalecia cada vez mais. Como dizem por aí: “ninguém chuta um cão morto”.
At 9.25: “Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro”.
2 Co 11.33: “E fui descido num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos”.
Em 2 Co 11.33, Paulo relata o acontecimento descrito em At 9.25. Devido as perseguições e ciladas dos judeus contra sua vida, ele foi descido por uma janela do muro de Damasco, num cesto e desta forma sua vida foi poupada. Arrington (2003, p. 677) faz o seguinte comentário acerca deste acontecimento:
“Saulo já começa a sofrer pelo nome do Salvador (cf. v. 16). Sua proclamação profética de Jesus como Filho de Deus encontrou forte resistência, mas o fato de Deus liberta-lo de Damasco sugere que este apóstolo cheio do Espírito é destinado a pregar o evangelho até aos confins da terra. Nenhum dos esforços em obstruir-lhe o caminho terá sucesso, e, finalmente, por causa da graça e poder de Deus este ‘vaso escolhido’ emergirá como alguém por meio de quem o propósito de Deus é cumprido (At 28.31)”.
2.3. De Damasco para o mundo (At 9.23-24) – Os detalhes da fuga de Paulo são interessantes, o sucesso dela dependeu da cumplicidade e ajuda dos irmãos dali, observe que ele escapou à noite, pelo muro da cidade, num cesto descido através de uma corda. A partir de então, o que se sabe é que ele foi para Jerusalém, onde sua vida foi marcada pela atividade evangelizadora nos anos seguintes. Ainda que, aparentemente em algum momento de sua história, não tenha sido bem sucedido, seu exemplo vívido permanece como fonte de inspiração a todos os missionários posteriores.
A fuga de Paulo mostra que em meio às perseguições, muitas vezes, o servo do Senhor deve fugir. Aparentemente, isto poderia ser interpretado como covardia ou falta de fé, mas o fato é que, através da fuga não só de Paulo, mas também de outros discípulos da igreja primitiva, o evangelho pode se estender por diversas outras regiões.
Mt 5.10: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.
Mt 10.23: “Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.
Jo 15.20: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”.
Rm 8.35-37: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito:Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia;Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou”.
3. Chegada de Paulo a Jerusalém e a sua partida – Dentre tantos lugares que Paulo poderia ter ido pelo vasto Império Romano, em sua fuga, ele decidiu ir a Jerusalém. Mas com que interesse? O que fica claro, conforme narrou posteriormente, era que ele tinha como objetivo primário que era o de ver Pedro (Gl 1.18). Todavia, por algum motivo, não o encontrou de imediato, encontrando apenas dificuldades com alguns irmãos que não tinham certeza da sua genuína conversão.
3.1. A dificuldade de entrosamento (At 9.26) – Para os cristãos de Jerusalém, a conversão de Paulo não passava de “fachada” para tentar aprisionar depois. Aliás, a sua conversão, de certa maneira, era algo recente e os traumas relacionados à pessoa dele eram enormes. Então, Paulo procurava se ajuntar a eles, porém eles com medo o evitavam. Ele já havia sido beneficiado pela oração de Estevão, pela acolhida calorosa e perdoadora de Ananias, mas faltava alguém que lhe servisse de conexão para ajudá-lo quanto à dificuldade de entrosamento. Havia um motivo sério que impedia as pessoas dele se aproximar, posto que muitas feridas ainda estivessem abertas na vida de algumas famílias cristãs de Jerusalém. Entretanto, é difícil entender como em alguns lugares, certos novos convertidos e crentes, vindos de outras cidades distantes não conseguem entrosamento, porque alguns grupos da igreja local se cristalizam em torno de si impedindo a integração de novatos ou recém-chegados.
At 9.26: “E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo”.
Gl 1.17,18: “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”.
Depois de sua saída de Damasco, Paulo parte para Jerusalém onde então ele procura ajuntar-se aos discípulos. Os discípulos ainda temiam, e isto provavelmente devido ao seu passado recente de perseguidor dos cristãos. Apesar disto, na carta aos Gálatas, Paulo descreve seu encontro com Pedro e com Tiago, irmão do Senhor. O relato de Atos não é completo em si mesmo quanto a este encontro, mas talvez seja isto que esteja implícito em At 9.27 quanto a apresentação de Paulo aos apóstolos feita então por Barnabé. Esta apresentação provavelmente foi a ponte que uniu Paulo aos demais discípulos desfazendo assim o temor que sentiam em relação à sua pessoa.
3.2. Barnabé o apresenta aos apóstolos (At 9.27-28) – Barnabé era um líder de elevada estatura espiritual “que insistia em crer no melhor dos outros”. Era certo que ele evitou Paulo quando ainda era um perseguidor, mas agora, ao saber que se convertera, deixou aflorar as boas lembranças de um conhecimento anterior, de um tempo possível em que estudaram juntos. É certo que ele averiguou a história recente da conversão e tomou conhecimento da palavra profética de Ananias: de que Paulo era um vaso escolhido para anunciar o nome do Senhor. Diante de tantas evidências, ou seja, de como Paulo vira o Senhor e lhe falara da sua disposição em anunciar ousadamente no nome do Senhor, Barnabé fez a ponte, servindo de conexão entre os apóstolos e Paulo. Foi a partir daí que Paulo passou andar com eles em Jerusalém, entrando e saindo.
At 9.27,28: “Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus. E andava com eles em Jerusalém entrando e saindo”.
O relato de Atos não deixa claro o que levou Barnabé a se convencer da sinceridade da conversão de Paulo, mas o fato é que ele conhecia acerca de sua conversão no caminho de Damasco e de seu testemunho em Damasco. Barnabé faz jus ao seu nome “filho da consolação” e desta forma, ele convence a comunidade cristã quanto a autenticidade da conversão de Paulo. Desde então Paulo tinha liberdade entre os cristãos em Jerusalém, porém de acordo com o relato de Gl 1.17,18, talvez ele não tenha tido tempo suficiente para estar com todos os demais apóstolos, mas apenas com Pedro e Tiago, irmão do Senhor.
3.3. Seu retorno a Tarso (At 9.29-31) – Paulo era “sui generis”, quer dizer, uma pessoa muito peculiar. Não se acomodava a rotinas, era ousado e como tal anunciava o nome de Jesus. Essa coragem o colocava constantemente em risco, principalmente quando decidiu falar e disputar contra os helenistas, os judeus de fala grega a quem Estevão antes tivera também testemunhando de Jesus. Quando os irmãos souberam que os helenistas procuravam matá-lo, aí decidiram o aconselhar deixar Jerusalém e o acompanharam até Cesaréia onde havia um porto construído por Herodes. Então partiu Paulo para Tarso, sua terra natal, e os irmãos puderam respirar aliviados, pois senão ele teria o mesmo destino de Estevão.
At 9.29-31: “E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam matá-lo. Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso. Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo”.
Em Jerusalém, Paulo começou a testemunhar aos helenistas, judeus de fala grega, provavelmente dentre os quais estavam aqueles que haviam tramado o julgamento e a morte de Estevão. Paulo era um destes judeus, pois havia nascido e crescido em Tarso e, sem dúvida, neste momento, ele sentia a obrigação de dar continuidade ao trabalho de Estêvão. Os judeus helenistas, no entanto não estavam dispostos a permitir seu testemunho, e desta forma, conspiraram para matá-lo. Parece, porém que em algum momento desta história, Paulo se dirige ao templo, onde então, Deus se dirige a ele para lhe indicar o que fazer. O Senhor fala a Paulo no templo lembrando-lhe de sua comissão de levar a mensagem aos gentios, conforme ele mesmo relata em At 22.17-21: “E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim. E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em ti. E quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as capas dos que o matavam. E disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe”. Talvez Paulo tenha compartilhado essa mensagem com os líderes da igreja, e assim eles o ajudaram a voltar para sua cidade natal de Tarso. Depois disto, Paulo só voltaria a figurar nas páginas do Novo Testamento por ocasião de sua chegada a Antioquia da Síria, o que indica um tempo de silêncio das Escrituras em relação a sua pessoa.
Referências Bibliográficas:
Douglas, J. D.; O Novo Dicionário da Bíblia, 1995, 2a Ed., Edições Vida Nova, São Paulo, SP.
Arrington, F. L.; Aker, B. C.; Comentário Bíblico Pentecostal, 2003, 1a Ed., CPAD, Rio de Janeiro, RJ.