sábado, 27 de outubro de 2012

LIÇÃO 4 - O PROGRESSO ESPIRITUAL DO APÓSTOLO PAULO

Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Apóstolo Paulo
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara

Texto Áureo: “Mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía” (Gl 1.23).

Verdade Aplicada: Cada cristão tem o dever de ajudar espiritualmente ao seu semelhante.

Objetivos da Lição:

·       Acompanhar; pelos registros de Atos o desenvolvimento espiritual de Paulo.
·       Apresentar o zelo evangelístico de Paulo.
·       Conhecer a sua dificuldade de permanecer em Jerusalém.

Textos de Referência: At 9.20,21,25-28


Introdução - Depois que Paulo reconfigurou a sua mente através da sua conversão a Cristo, o que não levou muito tempo, dada a sua vontade inquebrantável de crescimento, ele passou a viver de acordo com as suas novas convicções. Isso evidenciou a profunda transformação que sofreu no caminho de Damasco, e essa transformação, a cada tempo, tanto mais se evidenciava. Será estudado aqui como se processou o desenvolvimento espiritual de Paulo.

At 9.17,18: “E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo. E logo lhe caíram dos olhos como que umas escamas, e recuperou a vista; e, levantando-se, foi batizado”.

Depois de três dias sem ver, não comer e nem beber, Paulo recebeu a visita de Ananias, e este lhe impôs as mãos de forma que ele viesse a ser cheio do Espírito Santo. A experiência de Paulo no caminho de Damasco com o Senhor Jesus Cristo o levou a experimentar um novo nascimento; sua experiência em casa de Judas na seqüência faz, por conseguinte um paralelo com a dos discípulos no dia de Pentecostes quando então todos foram cheios do Espírito Santo. É através da presença do Espírito Santo conduzindo Paulo em todos os seus caminhos que a transformação nele efetuada seria cada mais evidenciada.

2 Co 3.18: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”.

1. O esforço evangelístico de Paulo – A convivência com os irmãos de Damasco era muito boa, disso ninguém duvida, mas Paulo era uma pessoa com o temperamento e a vontade de demonstrar gratidão a Deus, e crescer espiritualmente. Sentia a necessidade de compartilhar tão logo a sua dramática conversão, e quem de fato era Jesus de Nazaré.

1.1. Pregando nas sinagogas (At 9.20) – O autor de Atos omite o fato de Paulo ter viajado para Arábia, mas Paulo, ao escrever aos gálatas, informa que, três anos após a sua conversão, ele foi das regiões da Arábia paia Jerusalém (Gl 1.17-18). Entretanto, no texto supracitado, Paulo expõe o fato de ter estado em Damasco novamente, e, conforme os maiores detalhes escritos por Lucas lá esteve pregando. Fica uma pergunta no ar: Por que teria Paulo ido à Arábia, e o que ficou fazendo naqueles três anos? Embora não tenhamos detalhes, sabemos que ele ali parou para refletir sobre a sua decisão, visando-a fortalecer. Todavia é certo que ele procurou falar de Jesus causando algum tipo de problema na Arábia. Por isso retomou a Damasco, e, aos sábados, vestia-se com os trajes de fariseu, e, indo às sinagogas, dali pregava acerca de Jesus ressuscitado.

At 9.19,20: “E, tendo comido, ficou confortado. E esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco. E logo, nas sinagogas, pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus”.

Gl 1.15-17: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que o pregasse entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue, nem tornei a Jerusalém, a ter com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco”.

O texto de At 9.19 revela de certa forma o modo como Paulo foi recebido, após seu batismo, pelos demais discípulos em Damasco: “Esteve Saulo alguns dias com os discípulos que estavam em Damasco”. Logo na seqüência, o texto informa o teor da mensagem de Paulo nas sinagogas: “Pregava a Jesus, que este era o Filho de Deus”. A mensagem de Paulo é desde o princípio surpreendente. Ela revela o amplo entendimento que ele passou a ter em sua experiência na estrada de Damasco acerca de Jesus. Ele não era apenas “o Cristo” o Messias esperado pela nação de Israel segundo as promessas feitas por Deus, mas o “Filho de Deus”, ou seja, Deus em toda sua plenitude. O texto de Atos não informa quanto tempo Paulo permaneceu em sua primeira estada em Damasco, mas fica evidente, segundo Gl 1.15-17 que o relato de At 9.19-22 não é contínuo já que em algum momento Paulo se isentou de Damasco, partindo para a região da Arábia, para então posteriormente ele retornar a Damasco.

1.2. O espanto dos que o ouviam (At 9.21) – Os comentários sobre a conversão de Paulo se tomaram notórios no seio da igreja (Gl 1.23). Era uma enorme surpresa ouvir o jovem Paulo muito bem trajado como fariseu, aos sábados, nas sinagogas de Damasco. Ele era um ótimo orador, mas ouvi-lo, agora, apresentando o Nazareno morto na cruz, como o Cristo prometido, causava espanto. Afinal, não era Paulo aquele que antes recebera cartas para prender os dissidentes? Como agora procura convencer que esse Jesus é o Cristo? Realmente o espanto e a confusão impregnavam a plateia.

At 9.21,22: “Todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam este nome e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais dos sacerdotes?”.

Gl 1.22-24: “E não era conhecido de vista das igrejas da Judéia, que estavam em Cristo; mas somente tinham ouvido dizer: Aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía. E glorificavam a Deus a respeito de mim”.

Os fatos referentes à conversão de Paulo tornaram-se notórios em Damasco, conforme pode-se perceber pelos relato de At 9.21. Isto não implica necessariamente em dizer que Paulo era um ótimo orador. Mais tarde, ele próprio iria dizer por carta aos coríntios, o fato de ser “rude” na palavra, o que talvez indique não ser ele um exímio orador.

2 Co 11.5,6: “Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós”.

1.3. Seu esforço apologético (At 9.22) – Paulo se esforçava para convencer os membros das sinagogas locais de Damasco, quanto à messianidade de Jesus de Nazaré. E, inicialmente, ele encontrava certa dificuldade, por causa da incredulidade e, possivelmente, das muitas altercações por parte dos ouvintes mais conservadores. Entretanto, com o passar do tempo, observamos que Paulo se fortalecia cada vez mais, quer dizer, mais em graça, e mais em argumentação e persuasão, de maneira que seus ouvintes começaram a ficar confusos quanto a sua opinião original. O ser humano pode chegar a conhecer a verdade, mas preferir a tradição na qual recebeu dos seus pais, ou mesmo por uma questão de orgulho se recusar a mudar da opinião que tanto creu, ensinou, ou discutiu. Por isso o texto de Lucas nos diz que “se esforçava muito mais” num esforço apologético.

At 9.22: “Saulo, porém, se esforçava muito mais e confundia os judeus que habitavam em Damasco, provando que aquele era o Cristo”.

O discurso de Paulo acerca de Jesus em Damasco leva muitos judeus a estarem atônitos, pois não era somente o comportamento de Paulo em relação aos discípulos de Jesus que havia se modificado. Paulo demonstrava com base nas Escrituras que Jesus era o Cristo, ou seja, o Messias prometido por Deus a Israel e isto confundia os judeus, pois a aceitação desta verdade entre eles, sugeriria uma mudança de comportamento em relação a Jesus, por parte daqueles que lhe ouviam o que, devido a tradição, não era uma atitude confortável de ser tomada.  

2. Fugindo de Damasco – Quando se entende que o governante de Damasco era alguém delegado pelo rei Aretas IV, da Arábia, conclui-se facilmente que a estada de Paulo de Tarso lá na Arábia não foi tão tranqüila como se imagina. Sua própria palavra define como foi: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos damascenos, para me prenderem” (2 Co 11.32). O contexto imediato do que Paulo trata escrevendo aos coríntios fala das humilhações, perseguições, açoites, fugas, etc., vividas ao longo de seu ministério exatamente nessa época. Assim, pode-se supor que essa indisposição não foi apenas por causa de seu trabalho em Damasco, mas na Arábia também.

Conforme já considerado anteriormente, o texto de At 9.19-22 não é contínuo já que em algum momento Paulo se isentou de Damasco partindo para a região da Arábia, para posteriormente ele retornar a Damasco. A região da Arábia não era somente a Arábia de hoje, mas o grande reino dos nabateus que naquele tempo se estendia até Damasco, tendo como capital Petra (localizada na região de Edom). Em conformidade com 2 Co 11.32 é provável que Aretas manteve Damasco sob seu poder em algum período da história. De acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 111), este Aretas é o rei Aretas IV, Filopatris, o último e mais famoso dos reis nabateus desse nome (c. de 9 a.C. – 40 d.C.). Este rei foi confirmado no governo de seu reino subjugado a Roma por Augusto, ainda que com alguma relutância, visto que o havia tomado sem permissão. Sua filha casou-se com Herodes Antipas, mas divorciou-se dele quando ele desejou casar-se com Herodias. Aretas declarou guerra contra Herodes e o derrotou em 36 d.C. De conformidade com Josefo (Antiguidades i. 12.4), sob Aretas as fronteiras do reino nabateu se expandiram desde o Eufrates até o mar Vermelho. Ainda, de acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 1085) o mais antigo rei nabateu que se conhece foi o Aretas I, c. de 170 a.C. Este foi capaz de salvaguardar as caravanas, e desta forma comerciantes nabateus estenderam o comércio desde o sul da Arábia e desde o golfo pérsico até Petra, de onde foi levado até à costa, particularmente, Gaza. Nebaiote, filho de Ismael e cunhado de Edom (Gn 25.13; 28.9) possivelmente deve ser considerado ancestral dos nabateus.

2.1. Conselho de morte (At 9.23,24) – A pregação de Paulo era forte, persuasiva, e cheia de poder. Ela deixava alguns confusos, convencia a outros e o resultado é que, com o passar dos dias, ele se tornava cada vez mais influente. Vendo que Paulo caia na graça de muitos, e que, com uma pregação convincente, crescia cada vez mais, os religiosos judeus, reunidos em conselho local, concluíram que nada havia que pudesse ser feito, senão eliminarem Paulo. É importante lembrar que o Príncipe deste mundo não ficaria de braços cruzados à medida que o seu reino estava sendo saqueado, ele reagiria tentando corromper ou eliminar o servo de Deus a ele dedicado. Caso não conseguisse, dificultaria ao máximo para que o obreiro de Cristo desistisse de fazer a obra de Deus.

At 9.23,24: “E, tendo passado muitos dias, os judeus tomaram conselho entre si para o matar. Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida”.

O “passado muitos dias” de At 9.23 talvez se refira aos decorridos três anos nos quais Paulo permaneceu na Arábia, retornando então a Damasco. O texto parece indicar que em seu retorno a Damasco, Paulo continuava pregando nas sinagogas acerca da Pessoa do Senhor Jesus, e isto levou os judeus a planejarem a sua morte, o que, no entanto veio ao conhecimento de Paulo, com certeza como providência de Deus para preservar a sua vida, já que os planos de Deus em relação a Paulo se estendiam para além das fronteiras da Arábia e de Damasco.

2 Co 4.8,9: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”.

2 Tm 3.11,12: “Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou; e também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições”.

2.2. A fuga de Paulo (At 9.25) – Havia um entrosamento muito firme entre Paulo e os discípulos dali de Damasco, e, pelo risco que eles assumiram em salvá-lo, isso ficou claramente demonstrado. Paulo não era diferente de seu mestre. Sua influência fazia com que muitos o odiassem, mas também fazia com que vários outros fossem capazes de arriscar a própria vida por ele (Rm 16.4). Quando Paulo teve conhecimento do estratagema contra sua vida teve de fugir, mas, qual o por quê de tudo isso? A resposta está no seu trabalho que: incomodava, crescia, e se fortalecia cada vez mais. Como dizem por aí: “ninguém chuta um cão morto”.

At 9.25: “Tomando-o de noite os discípulos o desceram, dentro de um cesto, pelo muro”.

2 Co 11.33: “E fui descido num cesto por uma janela da muralha; e assim escapei das suas mãos”.

Em 2 Co 11.33, Paulo relata o acontecimento descrito em At 9.25. Devido as perseguições e ciladas dos judeus contra sua vida, ele foi descido por uma janela do muro de Damasco, num cesto e desta forma sua vida foi poupada. Arrington (2003, p. 677) faz o seguinte comentário acerca deste acontecimento:

“Saulo já começa a sofrer pelo nome do Salvador (cf. v. 16). Sua proclamação profética de Jesus como Filho de Deus encontrou forte resistência, mas o fato de Deus liberta-lo de Damasco sugere que este apóstolo cheio do Espírito é destinado a pregar o evangelho até aos confins da terra. Nenhum dos esforços em obstruir-lhe o caminho terá sucesso, e, finalmente, por causa da graça e poder de Deus este ‘vaso escolhido’ emergirá como alguém por meio de quem o propósito de Deus é cumprido (At 28.31)”.

2.3. De Damasco para o mundo (At 9.23-24)Os detalhes da fuga de Paulo são interessantes, o sucesso dela dependeu da cumplicidade e ajuda dos irmãos dali, observe que ele escapou à noite, pelo muro da cidade, num cesto descido através de uma corda. A partir de então, o que se sabe é que ele foi para Jerusalém, onde sua vida foi marcada pela atividade evangelizadora nos anos seguintes. Ainda que, aparentemente em algum momento de sua história, não tenha sido bem sucedido, seu exemplo vívido permanece como fonte de inspiração a todos os missionários posteriores.

A fuga de Paulo mostra que em meio às perseguições, muitas vezes, o servo do Senhor deve fugir. Aparentemente, isto poderia ser interpretado como covardia ou falta de fé, mas o fato é que, através da fuga não só de Paulo, mas também de outros discípulos da igreja primitiva, o evangelho pode se estender por diversas outras regiões.

Mt 5.10: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.

Mt 10.23: “Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.

Jo 15.20: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”.

Rm 8.35-37: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito:Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia;Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou”.

3. Chegada de Paulo a Jerusalém e a sua partida – Dentre tantos lugares que Paulo poderia ter ido pelo vasto Império Romano, em sua fuga, ele decidiu ir a Jerusalém. Mas com que interesse? O que fica claro, conforme narrou posteriormente, era que ele tinha como objetivo primário que era o de ver Pedro (Gl 1.18). Todavia, por algum motivo, não o encontrou de imediato, encontrando apenas dificuldades com alguns irmãos que não tinham certeza da sua genuína conversão.

3.1. A dificuldade de entrosamento (At 9.26) – Para os cristãos de Jerusalém, a conversão de Paulo não passava de “fachada” para tentar aprisionar depois. Aliás, a sua conversão, de certa maneira, era algo recente e os traumas relacionados à pessoa dele eram enormes. Então, Paulo procurava se ajuntar a eles, porém eles com medo o evitavam. Ele já havia sido beneficiado pela oração de Estevão, pela acolhida calorosa e perdoadora de Ananias, mas faltava alguém que lhe servisse de conexão para ajudá-lo quanto à dificuldade de entrosamento. Havia um motivo sério que impedia as pessoas dele se aproximar, posto que muitas feridas ainda estivessem abertas na vida de algumas famílias cristãs de Jerusalém. Entretanto, é difícil entender como em alguns lugares, certos novos convertidos e crentes, vindos de outras cidades distantes não conseguem entrosamento, porque alguns grupos da igreja local se cristalizam em torno de si impedindo a integração de novatos ou recém-chegados.

At 9.26: “E, quando Saulo chegou a Jerusalém, procurava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não crendo que fosse discípulo”.

Gl 1.17,18: “Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro, e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor”.

Depois de sua saída de Damasco, Paulo parte para Jerusalém onde então ele procura ajuntar-se aos discípulos. Os discípulos ainda temiam, e isto provavelmente devido ao seu passado recente de perseguidor dos cristãos. Apesar disto, na carta aos Gálatas, Paulo descreve seu encontro com Pedro e com Tiago, irmão do Senhor. O relato de Atos não é completo em si mesmo quanto a este encontro, mas talvez seja isto que esteja implícito em At 9.27 quanto a apresentação de Paulo aos apóstolos feita então por Barnabé. Esta apresentação provavelmente foi a ponte que uniu Paulo aos demais discípulos desfazendo assim o temor que sentiam em relação à sua pessoa.

3.2. Barnabé o apresenta aos apóstolos (At 9.27-28) – Barnabé era um líder de elevada estatura espiritual “que insistia em crer no melhor dos outros”. Era certo que ele evitou Paulo quando ainda era um perseguidor, mas agora, ao saber que se convertera, deixou aflorar as boas lembranças de um conhecimento anterior, de um tempo possível em que estudaram juntos. É certo que ele averiguou a história recente da conversão e tomou conhecimento da palavra profética de Ananias: de que Paulo era um vaso escolhido para anunciar o nome do Senhor. Diante de tantas evidências, ou seja, de como Paulo vira o Senhor e lhe falara da sua disposição em anunciar ousadamente no nome do Senhor, Barnabé fez a ponte, servindo de conexão entre os apóstolos e Paulo. Foi a partir daí que Paulo passou andar com eles em Jerusalém, entrando e saindo.

At 9.27,28: Então Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos, e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor e lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus. E andava com eles em Jerusalém entrando e saindo”.

O relato de Atos não deixa claro o que levou Barnabé a se convencer da sinceridade da conversão de Paulo, mas o fato é que ele conhecia acerca de sua conversão no caminho de Damasco e de seu testemunho em Damasco. Barnabé faz jus ao seu nome “filho da consolação” e desta forma, ele convence a comunidade cristã quanto a autenticidade da conversão de Paulo. Desde então Paulo tinha liberdade entre os cristãos em Jerusalém, porém de acordo com o relato de Gl 1.17,18, talvez ele não tenha tido tempo suficiente para estar com todos os demais apóstolos, mas apenas com Pedro e Tiago, irmão do Senhor.

3.3. Seu retorno a Tarso (At 9.29-31) – Paulo era “sui generis”, quer dizer, uma pessoa muito peculiar. Não se acomodava a rotinas, era ousado e como tal anunciava o nome de Jesus. Essa coragem o colocava constantemente em risco, principalmente quando decidiu falar e disputar contra os helenistas, os judeus de fala grega a quem Estevão antes tivera também testemunhando de Jesus. Quando os irmãos souberam que os helenistas procuravam matá-lo, aí decidiram o aconselhar deixar Jerusalém e o acompanharam até Cesaréia onde havia um porto construído por Herodes. Então partiu Paulo para Tarso, sua terra natal, e os irmãos puderam respirar aliviados, pois senão ele teria o mesmo destino de Estevão.

At 9.29-31: “E falava ousadamente no nome do Senhor Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam matá-lo. Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso. Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo”.

Em Jerusalém, Paulo começou a testemunhar aos helenistas, judeus de fala grega, provavelmente dentre os quais estavam aqueles que haviam tramado o julgamento e a morte de Estevão. Paulo era um destes judeus, pois havia nascido e crescido em Tarso e, sem dúvida, neste momento, ele sentia a obrigação de dar continuidade ao trabalho de Estêvão. Os judeus helenistas, no entanto não estavam dispostos a permitir seu testemunho, e desta forma, conspiraram para matá-lo. Parece, porém que em algum momento desta história, Paulo se dirige ao templo, onde então, Deus se dirige a ele para lhe indicar o que fazer. O Senhor fala a Paulo no templo lembrando-lhe de sua comissão de levar a mensagem aos gentios, conforme ele mesmo relata em At 22.17-21: “E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim. E eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em ti. E quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as capas dos que o matavam. E disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe”. Talvez Paulo tenha compartilhado essa mensagem com os líderes da igreja, e assim eles o ajudaram a voltar para sua cidade natal de Tarso. Depois disto, Paulo só voltaria a figurar nas páginas do Novo Testamento por ocasião de sua chegada a Antioquia da Síria, o que indica um tempo de silêncio das Escrituras em relação a sua pessoa.

Referências Bibliográficas:
Douglas, J. D.; O Novo Dicionário da Bíblia, 1995, 2a Ed., Edições Vida Nova, São Paulo, SP.
Arrington, F. L.; Aker, B. C.; Comentário Bíblico Pentecostal, 2003, 1a Ed., CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

LIÇÃO 1 - AS ORIGENS DO APÓSTOLO PAULO

Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Apóstolo Paulo
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara

Texto Áureo: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (3.7).

Verdade Aplicada: É fato inegável que a linhagem, o lugar de nascimento e a cultura de Saulo de Tarso contribuíram decisivamente para que o Evangelho fosse divulgado em todo mundo antigo.

Objetivos da Lição:

·       Entender o valor representativo das origens de Paulo em sua visão religiosa judaica.
·       Mostrar como as raízes de Paulo colaboraram positivamente após sua conversão e através de sua pregação.
·      Reconhecer que Deus se utiliza tanto de nossas origens quanto do que somos, para realização da sua obra.

Textos de Referência: Fp 3.4-6,8

Introdução: Para compreender as origens de Paulo – aquele que se tornou o Apóstolo dos Gentios, o primeiro bandeirante do Evangelho ao lado de Barnabé – exige-se esforço e horas a fio, de leitura e investigação. Ao longo deste trimestre, buscaremos ler e entender sobre ele cujo labor missionário, obra social e trabalho doutrinário fizeram repercutir, através dos séculos, resultados incontestáveis acerca da fé cristã.

            O nome de Paulo aparece pela primeira vez nas Escrituras em At 7.58 por ocasião do apedrejamento de Estevão. Por esta ocasião seu nome é mencionado nas Escrituras como Saulo, sendo ele um ferrenho perseguidor da igreja. O texto de At 9 registra a conversão de Saulo no caminho para Damasco, quando então, o Senhor revela seu propósito em relação ao ministério de Paulo e é este propósito que faz de Paulo um bandeirante do Evangelho. Depois de sua conversão, Paulo parte para a região árabe, onde ele permanece durante um período de três anos regressando então a Damasco. Posteriormente, Paulo faz uma visita de duas semanas a Jerusalém e dali ele parte mediante uma visão para a cidade de Tarso onde permanece por cerca de dez anos. Quando Barnabé está em Antioquia da Síria, ele vai a cidade de Tarso, a fim de encontrar Paulo e assim eles partem para Antioquia. Ao lado de Barnabé, Paulo parte para sua primeira viagem missionária, e a partir de então seu nome passa a ganhar destaque nas páginas do Novo Testamento tanto no que diz respeito a propagação do evangelho quanto a todas as demais questões relacionadas à confirmação da fé cristã em todo o mundo.

At 9.15: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido, para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis e dos filhos de Israel”.

At 11.25: “E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo; e, achando-o, o conduziu para Antioquia”.

1. Seus dados pessoais – Estudaremos, a seguir, as origens daquele que, após Jesus, tornou-se a figura de maior expressão do Novo Testamento. Muitos são os detalhes com respeito à pessoa de Paulo, seu nome, onde nasceu e a grandeza da sua cidade natal. São informações importantes para entender um pouco mais sobre a história desse homem tão brilhante em sua época. Ele continua contribuindo enormemente para com a fé cristã através de sua vida, cartas e teologia.

            Após Jesus, dois nomes são expressivos no Novo Testamento na propagação da fé cristã. O nome de Pedro e o nome de Paulo. O nome de Pedro se mantém proeminente até o registro do capítulo dez do livro de Atos. A partir do capítulo onze, é o nome de Paulo que ganhará proeminência no Novo Testamento. Seu nome aparece 22 vezes como Saulo e 50 vezes como Paulo no Novo Testamento. Além disto, das 21 epístolas registradas no Novo Testamento, 13 são de autoria de Paulo. É inegável a dedicação de Paulo ao Senhor Jesus Cristo, tendo ele oferecido pelo menos 33 anos de sua vida ao Senhor desde sua conversão que provavelmente ocorreu no ano 35 d.C. até o momento de sua morte que provavelmente ocorreu nos anos 68 a 70 d.C.

1.1 Nome – O Judeu, natural de Israel, costumava ter o nome seguido pelo nome de seu pai, por exemplo, Jesus filho de José (Lc 3.23); Tiago, filho de Zebedeu (Mt 4.21); Zacarias, filho de Baraquias (Mt 23.35). E, em outros textos, também é indicada a linhagem tribal ou o seu ancestral proeminente (Mt 15.22; At 13.21; Rm 11.1). Porém todo judeu da diáspora, pelo Império Romano afora, tinha dois nomes, um em hebraico e outro latino, ou grego também. O Apóstolo dos Gentios era possuidor de dois nomes, “Saulos” o mesmo que Saul que significa o “desejado”; e um nome latino “Paulus” que significa pequeno.

            Segundo o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, pp. 431), o termo ‘Dispersão’ (em grego diáspora) denota os judeus espalhados pelo mundo não judaico ou aos lugares nos quais passaram a residir. O Antigo Testamento registra a dispersão do povo escolhido por ocasião da conquista do Reino do Norte, Israel, pela Assíria e por ocasião da conquista do Reino do Sul, Judá, pela Babilônia. Uma porção dos judeus retornou à terra prometida durante o tempo de Ciro; porém muitos judeus permaneceram nos locais onde estavam então residindo. Segundo escreve Douglas, com as conquistas de Alexandre o Grande, tem-se início uma nova era de dispersão. Uma corrente cada vez mais volumosa de imigrantes judeus é observada nos mais diversos lugares. No primeiro século d.C., Filo enumerou os judeus no Egito como um milhão. Estrabão, o geógrafo, um pouco mais cedo, observa o número e o estado dos judeus em Cirene, adicionando: ‘Esse povo já penetrou em cada cidade, e não é fácil encontrar qualquer lugar do mundo habitável que não tenha recebido gente dessa nação e onde não tenha feito seu poder sentido’ (citado por Josefo, Antiguidades, xiv. 7.2, edição de Loeb). A dispersão para o ocidente tinha de viver no mundo grego, e um dos principais resultados disso foi a tradução dos livros sagrados para o grego, o que conduziu a produção da chamada Septuaginta. É neste contexto de dispersão que muitos judeus da diáspora tinham dois nomes, um em hebraico e outro latino, ou grego também, o que indica a influência tanto da cultura judaica quanto da cultura local onde residiam em suas vidas. A dispersão dos judeus por diversas partes do mundo pode ser vista claramente no relato do dia de Pentecoste, quando então é mencionado em At 2.5-9 a presença de judeus em Jerusalém provenientes de diversas partes do mundo: ”E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua. E todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus”.

1.2 Local de nascimento – Oportunamente, Saulo exibia, com muito orgulho, a sua origem natalícia em seu testemunho pessoal (At 21.39). Para ele era uma glória proceder de Tarso e para um centurião ou tribuno romano algo cobiçável, pois ser de Tarso lhe conferia automaticamente o direito de cidadania romana por nascimento, o que era conseguido por alguns com grande soma de dinheiro (At 22.27,28). Geograficamente, a cidade de Tarso se localizava na Cilícia, que, nos dias de Paulo, pertencia à Síria por ter sido anexada por meio de Roma. Tarso era um lugar de belas paisagens, com um centro comercial muito próspero, era uma cidade portuária com grande movimentação de mercadorias e de pessoas.

            Desde o nascimento de Paulo até o aparecimento em Jerusalém como perseguidor dos cristãos, há pouca informação concernente à vida de Paulo. Embora fosse da tribo de Benjamim, Paulo nasceu em Tarso como cidadão romano conforme testifica os textos de At 9.11, 9.30; 21.39; 22.3:

At 9.11: “E disse-lhe o Senhor: Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando”.
 

At 9.30: “Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia, e o enviaram a Tarso”.
 

At 21.39: “Mas Paulo lhe disse: Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo”.
 

At 22.3: “Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois”.

O título de cidadão romano ele obteve por nascimento, conforme ele mesmo atesta em At 22.27,28:

At 22.27,28: “E, vindo o tribuno, disse-lhe: Dize-me, és tu romano? E ele disse: Sim. E respondeu o tribuno: Eu com grande soma de dinheiro alcancei este direito de cidadão. Paulo disse: Mas eu o sou de nascimento”.

1.3 Exuberância de Tarso – Por tornar-se uma célebre cidade, nos dias de Paulo, era considerada uma cidade cosmopolita, seus habitantes eram procedentes de vários lugares do Império. Havia ali um apego e um entusiasmo grande com relação ao aprendizado, chegando a tal ponto que Tarso superou Atenas e Alexandria no Egito com sua universidade. Portanto era uma cidade com forte influência grega muito ligada à filosofia, principalmente estóica. Muitos de seus habitantes eram tecelões e faziam tendas a partir de um tecido grosseiro fabricado com pelo de cabra e tudo indica que Paulo aprendeu tal profissão ali.

            A cidade de Tarso é a moderna Tersous, uma cidade da planície ciliciana, banhada pelo rio Cidno, e cerca de 16 Km  para o interior, à maneira da maioria das cidades das costas da Ásia Menor. Tarso deve ter abrigado uma população de não menos de meio milhão de habitantes nos tempos romanos. Segundo o Novo Dicionário da Bíblia, a cidadania romana estendida aos judeus de Tarso provavelmente data do acordo firmado por Pompeu em 65-64 a.C. Este acordo reconstituiu a Cilícia como uma ‘esfera de dever’ e os governadores entre os quais Cícero (51 a.C.) ficaram incumbidos da tarefa de pacificar a costa infestada de piratas e as hinterlândias, além de proteção aos interesses romanos.
            A escola estóica citada pelo comentarista é mencionada em At 17.18, quando Paulo discursava em Atenas acerca de Jesus e da ressurreição. Segundo o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 555), a escola estóica de filosofia se derivou quanto ao nome do Stoa Poikile, o pórtico em Atenas onde Zeno de Cítium (335-263 a.C.) começou a ensinar suas doutrinas características. Seu ensinamento foi sistematizado e desenvolvido por Crísipo (280-207 a.C.). A atitude geral dos estóicos se modificou com elementos aproveitados do platonismo, sendo que desse estoicismo mais sincrético, Posidônio foi um dos principais expositores. Os estóicos buscavam salvação alinhando sua vontade com a inerente razão do universo. O homem é feliz quando não deseja que as coisas sejam diferentes do que são; por conseguinte, que o indivíduo busque compreender claramente o ciclo da natureza e cultivar a aceitação voluntária do mesmo. O homem deve servir seu semelhante não impulsionado pelo amor, que fá-lo-ia sofrer [...], mas impulsionado pelo puro reconhecimento que a vida de serviço ao próximo é a vida natural do homem. Paulo combate os estóicos e epicureus em At 17.22-31 o que indica o conhecimento que ele tinha destas filosofias, o que talvez esteja ligado ao seu nascimento na cidade de Tarso.

At 17.18: “E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele; e uns diziam: Que quer dizer este paroleiro? E outros: Parece que é pregador de deuses estranhos; porque lhes anunciava a Jesus e a ressurreição”.

2. Origem familiar A história não nos fornece informações precisas com respeito à família de Paulo, nem se realmente foi casado ou não, mesmo sendo ele capaz de discorrer com mestria sobre relação conjugal. Todavia podemos facilmente compreender o valor que Paulo dava à família. As instruções precisas e os conselhos sábios contidos na sua correspondência às igrejas demonstram fartamente isso.

Ef 5.22-25: “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a seus maridos. Vós, maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela”.

Ef 6.1-4: “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor”.

2.1 Hebreu de hebreus – Apesar de não ser mencionado o nome do pai e nem da mãe de Paulo em nenhuma parte do N.T., sabe-se perfeitamente que ele é de ascendência hebraica. Ora, um coisa importante de saber-se é que para ser considerado israelita, tem de necessariamente ser filho de mãe judia, logo era realmente hebreu, circuncidado ao oitavo dia (Fp 3.5). Portanto, isso quer dizer que ele era filho segundo a carne de Abraão, Isaque e Jacó, pertencente à linhagem de Benjamim (Rm 11.1; Fp 3.5). Não sabemos que circunstâncias levaram os ancestrais de Paulo a imigrar à região da Cilícia e instalarem-se em Tarso. Dentre as várias hipóteses que se possa levantar, uma é a de que seria descendente de um ex-escravo que teria sido prisioneiro de guerra, e a outra, a mais aceita, é de que sua família estaria dentre os judeus da diáspora que moravam numa enorme colônia judaica da época.

            De acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 1217), Jerônimo cita uma tradição que diz que os antepassados de Paulo eram da Galiléia. Não é certo se migraram para Tarso por razões comerciais ou se foram colonizado por um governante sírio qualquer, mas o fato de que eram cidadãos romanos sugere que já residiam em Tarso por algum tempo. Apesar de Paulo ter nascido em Tarso, sua ascendência hebraica é testificada no Novo Testamento, conforme ele próprio menciona em Rm 11.1 e Fp 3.5:

Rm 11.1: “Digo, pois: Porventura rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum; porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”.

Fp 3.4,5: “Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu”.

2.2 Pais – Seu pai era fariseu, isso significa que era membro de um grupo religioso em Israel muito rigoroso quanto à lei de Moisés e os costumes dos antepassados (At 23.6). Como vários fariseus daquela época tinham seu próprio negócio, era possível que o pai de Paulo fosse um homem assim também, pois pôde financiar os estudos do filho em Jerusalém, o de natureza superior, quando este ainda era bem jovem. Como todo pai dedicado, queria posicionar bem o filho na sociedade judaica de sua época. Não há qualquer registro do nome do pai e da mãe de Paulo. Mas seria o menino Saulo filho único? Claro que não, pois tinha uma irmã provavelmente mais velha – ela morava em Jerusalém e tinha um filho jovem na época em que estava preso na Fortaleza de Antônia. Foi esse moço, seu sobrinho, que o livrou da morte através de informação sigilosa, de uma conspiração dos judeus para tirar-lhe a vida durante o seu translado para Cesaréia (At 23.16-24).

At 23.6: “E Paulo, sabendo que uma parte era de saduceus e outra de fariseus, clamou no conselho: Homens irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu; no tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado”.

At 26.5: “Sabendo de mim desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu”.

At 23.16,17: “E o filho da irmã de Paulo, tendo ouvido acerca desta cilada, foi, e entrou na fortaleza, e o anunciou a Paulo. E Paulo, chamando a si um dos centuriões, disse: Leva este jovem ao tribuno, porque tem alguma coisa que lhe comunicar”.

De acordo com o Dicionário Vine (2006, p. 643) os fariseus e saduceus apareceram como partidos distintos na última metade do século II a.C., embora representassem tendências traçáveis muito mais antigas na história judaica, tendências que se tornaram pronunciadas depois da volta do cativeiro na Babilônia (537 a.C.). Os progenitores imediatos dos dois partidos foram, respectivamente, os hassideus e os helenizantes; estes, os antecedentes dos saduceus, visavam tirar o judaísmo de sua estreiteza e tomar parte nas vantagens da vida e cultura gregas. Os hassideus, ou seja, “os piedosos” eram uma sociedade de homens zelosos da religião que agiam sob a direção dos escribas em oposição ao partido helenizante irreligioso; eles tinham escrúpulos em se opor ao sumo sacerdote legítimo mesmo quando ele estava no lado grego. Portanto, os helenizantes eram uma seita política, ao passo que os hassideus, cujo princípio fundamental era a completa separação dos elementos não judaicos, eram o partido estritamente legal, entre os judeus, e, em última instância, o partido mais popular e influente. Conforme descrito acima, Paulo era fariseu e de acordo com At 23.6 seu pai também pertencia ao partido dos fariseus. Com relação a outros da família de Paulo, o texto de At 23.16,17 relata a presença de um filho da irmã de Paulo que tem acesso à fortaleza onde Paulo encontrava-se preso em Jerusalém, fato este que indica uma posição proeminente da família em Jerusalém.

2.3 Outros parentes – Na Carta de Paulo ao Romanos, capítulo 16, nas saudações finais; dentre as 36 pessoas mencionadas, três são apontadas como parentes seus quando diz, “Saúda Andrônico e Júnias, meus parentes” (v. 7); e em seguida, escreve: “Saudai meu parente Herodião” (v. 11). Daí se conclui que, além de ter parentes, eles eram fiéis que pertenciam à Igreja que estava em Roma. Cremos que, a partir da sua conversão, muitos vieram a se converter depois, ainda que não tenha sido resultado de seu trabalho direto, pois o cristianismo se espalhou no mundo antigo chegando também a Roma rapidamente.

Js 24.15: “Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”.

At 16.31: “E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa”.

3. Cultura e personalidade – Sabemos que Paulo estava bem posicionado em sua época, até porque isso lhe garantiria livre trânsito por todo Império Romano. Se Paulo vivesse nossos dias, com certeza procuraria estar na dianteira, não por uma questão de ostentação, mas pelo rápido deslocamento, livre acesso a todos os lugares possíveis até por uma questão de segurança em tempos de perseguição. Que bom seria ver os obreiros de nossas igrejas buscando tal melhora e aperfeiçoamento.

            Paulo era um homem de amplo conhecimento em todas as áreas e isto muito contribuiu para a propagação da fé cristã. O Novo Testamento ordena que os cristãos cresçam em graça e em conhecimento, porém muitos obreiros nas igrejas desprezam a busca de conhecimento teológico o que acaba contribuindo para a destruição da fé cristã. Que o exemplo de Paulo possa vir a ser algo a ser imitado nas igrejas dos dias atuais.

Is 50.4: “O Senhor Deus me deu uma língua erudita, para que eu saiba dizer a seu tempo uma boa palavra ao que está cansado. Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que ouça, como aqueles que aprendem”.

Dn 12.3: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente”.

2 Tm 4.13: “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos”.

2 Co 11.5,6: “Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos. E, se sou rude na palavra, não o sou contudo na ciência; mas já em todas as coisas nos temos feito conhecer totalmente entre vós”.

3.1 Cultura judaica e grega – Quando Paulo era pequeno em Tarso, como toda criança judia, ia à escola que ficava ao lado da sinagoga. Aos cinco anos, iniciava seu aprendizado elementar sobre a lei de Moisés baseado em Deuteronômio, e estudava também os Salmos (113 a 118), nos anos subseqüentes, estudava a história de Israel e, entre outros estudos, aos doze anos, tinha que aprender aos pés de um rabino, uma série de preceitos orais e divinos, essa fase pode ter acontecido tanto em Tarso quanto em Jerusalém, pois ele se mudou para lá, ainda bem novo, como ele mesmo chegou a dizer em Atos 22.3. “Mas criei-me nesta cidade (Jerusalém)”. Posteriormente Paulo fez o seu curso superior aos pés de Gamaliel, renomado mestre da sua época como ele mesmo testemunhou: “aqui fui instruído aos pés de Gamaliel”. Paulo é reconhecidamente o homem mais culto dentre os apóstolos. Mas isso não aconteceu por acaso, seus pais investiram em sua instrução.

Os textos de At 22.3 “Quanto a mim, sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zelador de Deus, como todos vós hoje sois” e At 26.4 “Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre os da minha nação, em Jerusalém, todos os judeus a conhecem” relatam a educação que Paulo recebeu em Jerusalém, tendo ele sido aluno de Gamaliel. De acordo com o Novo Dicionário da Bíblia (Douglas, 1995, p. 652), Gamaliel era filho de Simão e neto de Hilel. Era doutor da lei e membro do Sinédrio. Ele representava a facção liberal dos fariseus, a escola de Hilel, em contraposição à Escola de Samai. O fato de Paulo ter nascido em Tarso e posteriormente ter sido educado na cidade de Jerusalém são indicativos da influência que ele recebeu tanto do pensamento grego quanto do pensamento judaico o que vem a contribuir para o desenvolvimento do pensamento paulino no que se refere por exemplo a doutrina da salvação, da justificação pela fé, da ressurreição dos mortos, da volta de Jesus, dentre tantos outros assuntos apresentado por ele ao longo de todas as suas cartas.

3.2 Evidência de amplos conhecimentos – O mundo antigo estava sob o domínio romano, mas impregnado da cultura grega. Assim, ser bem sucedido e ter “status” social era de vital importância naquela época. No currículo de Paulo, constavam idioma grego, filosofia, história e lendas. Basta olharmos para suas cartas e veremos citações gregas e pensamentos filosóficos comuns, sua viagem a Atenas e seu discurso no areópago para eliminar quaisquer dúvidas sobre a sua vasta cultura postas a serviço do reino de Deus após sua conversão. Outra coisa digna de nota é que Paulo, ao escrever a “Carta aos Romanos”, o maior tratado acerca da salvação, fé-lo em tom jurídico, pois o direito fascinava os romanos.

            Conforme já considerado Paulo era um homem de elevado conhecimento o que muito contribuiu para a propagação da fé cristã. Seu elevado conhecimento, porém não suplantou aquilo que ele passou, a partir de sua conversão, a considerar como ponto de maior importância em sua vida, a excelência do conhecimento de Cristo Jesus, conforme ele próprio declara em Fp 3.7,8: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo”.

3.3 Personalidade de Paulo – Paulo era uma pessoa decidida, com conceitos firmes e de muita atitude. Tinha um temperamento voltado para a liderança, nasceu para o comando e sabia desenvolver uma equipe de voluntários num trabalho árduo e sem recompensa financeira. Era uma pessoa capaz de despertar profundo amor e ódio nas pessoas, por ser ele um homem verdadeiro, muito trabalhador e cheio de zelo e de docilidade ao mesmo tempo. Tal foi o apóstolo, que, por mais que se fale a seu respeito, ainda é pouco. Porém o que sabemos a seu respeito é o suficiente para o seguirmos e o imitarmos como ele mesmo disse: “sede meus imitadores, como eu sou também de Cristo” (1 Co 11.1; Fp 3.17; 1 Ts 1.6; 2.14; 2 Ts 3.7,9; Hb 6.12).

            O texto de At 13.1 relata a presença de Paulo na igreja de Antioquia estando ele já listado entre os profetas e doutores ali presentes. Na listagem apresentada seu nome aparece por último e na primeira viagem missionária seu nome inicialmente é sempre referido após o nome de Barnabé. Não obstante, o nome de Paulo passa a figurar a partir de At 13.43 à frente do nome de Barnabé, o que indica a capacidade de liderança na personalidade de Paulo. Paulo dedicou-se totalmente ao Senhor Jesus e o que se percebe ao longo de sua carreira é que em todas as situações, sejam elas financeiras, emocionais, religiosas, físicas ou espirituais, ele sempre soube se posicionar, de modo que, em nada viesse a causar escândalo entre os judeus, gentios ou à igreja de Deus para que em tudo o nome de Jesus fosse glorificado através de sua vida.

At 13.1: “E na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé e Simeão chamado Níger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes o tetrarca, e Saulo”.

2 Co 6.3-10: “Não dando nós escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja censurado; antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias, nos açoites, nas prisões, nos tumultos, nos trabalhos, nas vigílias, nos jejuns, na pureza, na ciência, na longanimidade, na benignidade, no Espírito Santo, no amor não fingido, na palavra da verdade, no poder de Deus, pelas armas da justiça, à direita e à esquerda, por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama; como enganadores, e sendo verdadeiros; como desconhecidos, mas sendo bem conhecidos; como morrendo, e eis que vivemos; como castigados, e não mortos; como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo”.

2 Co 11.7-9: “Pequei, porventura, humilhando-me a mim mesmo, para que vós fôsseis exaltados, porque de graça vos anunciei o evangelho de Deus? Outras igrejas despojei eu para vos servir, recebendo delas salário; e quando estava presente convosco, e tinha necessidade, a ninguém fui pesado. Porque os irmãos que vieram da Macedônia supriram a minha necessidade; e em tudo me guardei de vos ser pesado, e ainda me guardarei”.