sexta-feira, 9 de novembro de 2012

LIÇÃO 6 - QUALIDADES DE PAULO COMO MISSIONÁRIO

Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Apóstolo Paulo
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara

Texto Áureo: “E, servindo eles ao Senhor; e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).

Verdade Aplicada: Quando um homem aceita a Cristo e Ele se torna de fato o seu Senhor, todos os dons, bens, talentos e vida são transferidos para o Reino de Deus.

Objetivos da Lição:

·      Apresentar alguns fatos que demonstrem que Paulo foi um homem preparado por Deus para realizar a obra missionária.
·      Relembrar como foi o chamado e alguns aspectos principais do seu desempenho missionário.
·      Mostrar que as suas virtudes foram essenciais e, ainda hoje, o seu exemplo influencia.

Textos de Referência: 2 Tm 2.1-5

Introdução: Em lição anterior, foi visto que a carreira espiritual de um homem que chega atingir elevados patamares é construída com apoio de vários outros que depositaram nele a sua confiança. Serão estudadas aqui algumas das muitas qualidades que foram cumuladas com a ajuda desses obreiros, resultado de esforço próprio e de uma crescente comunhão com Cristo Jesus.

O texto de Atos 9 mostra o apoio que Paulo recebeu desde a sua conversão:

·      Daqueles que com ele estavam no caminho de Damasco: “E Saulo levantou-se da terra, e abrindo os olhos, não via a ninguém. E, guiando-o pela mão, o conduziram a Damasco” (At 9.8).

·      De Ananias: “E Ananias foi, e entrou na casa e, impondo-lhe as mãos disse: Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo” (At 9.17).

·      Dos discípulos de Damasco: “Mas as suas ciladas vieram ao conhecimento de Saulo; e, como eles guardavam as portas, tanto de dia como de noite, para poderem tirar-lhe a vida, tomando-o de noite os discípulos, o desceram, dentro de um cesto, pelo muro” (At 9.24,25).

·      De Barnabé: “Então, Barnabé, tomando-o consigo, o trouxe aos apóstolos e lhes contou como no caminho ele vira ao Senhor, e este lhe falara, e como em Damasco falara ousadamente no nome de Jesus” (At 9.27).

·      Dos discípulos em Jerusalém: “E falava ousadamente no nome de Jesus. Falava e disputava também contra os gregos, mas eles procuravam mata-lo. Sabendo-o, porém, os irmãos, o acompanharam até Cesaréia e o enviaram a Tarso” (At 9.29).

1. Um vaso bem acabado – Paulo bem sabia da sua chamada para trabalhar entre os gentios, na verdade, ele herdou o zelo missionário dos fariseus e demais judeus que se esforçavam para trazer para o judaísmo os pagãos.

Em Mt 23.15, Jesus disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós”. As palavras de Jesus indicam que, de fato, um dos objetivos dos fariseus e escribas, era a conversão ao judaísmo dos gentios ainda que muitas vezes isto era feito de forma distorcida, conforme indica o versículo em apreço. Os prosélitos eram então os gentios convertidos de uma religião gentílica ao judaísmo, sendo que muitos deles recebiam a circuncisão e mantinham a lei de Moisés e todas as exigências do judaísmo. Paulo como fariseu, talvez tenha se empenhado em fazer prosélitos para o judaísmo, isto, porém não fica evidente em sua biografia descrita ao longo da Bíblia, mas sem dúvida alguma seu trabalho entre os gentios levando-os à conversão ao cristianismo era decorrente do chamado que ele recebeu de Jesus tendo isto sido evidenciado desde os primeiros momentos de sua conversão conforme atesta os seguintes versículos abaixo:

At 9.15: “Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel”.

At 22.21: “E disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe”.

At 26.14-17: “E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões. E disse eu: Quem és, Senhor? E ele respondeu: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio”. 

1.1 Um obreiro preparado (At 13.1,2) – Quando o Espírito Santo falou ao coração da igreja e a liderança onde Barnabé e Paulo estavam, ordenou que eles fossem separados para a obra previamente determinada pelo conselho divino. Paulo já era um homem preparado por Deus para aquele momento, assim como Barnabé. Todavia, eles continuaram aprendendo no trabalho missionário, mesmo que já tivessem um conhecimento teórico com base na experiência dos fariseus proselitistas, algumas experiências anteriores, etc... Observe que ele já falava grego e latim, além do aramaico que era a língua falada em Israel; a sua cidadania romana lhe conferia ampla mobilidade em todo o império romano com todos os direitos assegurados a um cidadão comum de Roma, sem contar que aprendera fazer tendas quando mais novo. Tudo isso foi muito útil.

At 13.1,2: “Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Niger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”.

Além de todas as características citadas pelo comentarista quanto ao preparo de Paulo para o momento descrito em At 13.1,2, o texto em apreço mostra também Paulo preparado em termos do conhecimento que ele tinha das Escrituras, daí ele aparecer listado entre os profetas e doutores que estavam em Antioquia. Um outro ponto importante no preparo de Paulo era sua submissão quanto a posição lhe conferida pelo Espírito Santo. Apesar de todos os predicados que já poderiam ser reconhecidos em sua pessoa, na igreja de Antioquia ele aparece em último lugar dentre os nomes citados, o que indica sua obediência a liderança ali estabelecida. Em Gl 1.15 Paulo fala de sua chamada desde o ventre de sua mãe: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça”. Tais palavras indicam que tudo na vida de Paulo desde seu nascimento aconteceu sob a permissão de Deus que o conduziu em todos os seus caminhos para que desta forma, seu propósito viesse a se cumprir na vida de seu servo.

Sl 139.13-16: “Pois possuíste os meus rins; cobriste-me no ventre de minha mãe. Eu te louvarei, porque de um modo assombroso, e tão maravilhoso fui feito; maravilhosas são as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem. Os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui feito, e entretecido nas profundezas da terra. Os teus olhos viram o meu corpo ainda informe; e no teu livro todas estas coisas foram escritas; as quais em continuação foram formadas, quando nem ainda uma delas havia”.

1.2 Um obreiro experiente – Ninguém nasce experiente em alguma coisa, todos aprendem com os outros, pela observação e pelos próprios erros. Paulo foi adquirindo experiência pouco a pouco em sua carreira cristã, mas de forma muito substancial pelos lugares por que passou como: nas regiões da Arábia, em Damasco, em Jerusalém, na Cilícia e agora em Antioquia da Síria ao lado de Barnabé. Deus foi lhe preparando ao longo de sua vida e não de uma vez, mas depois chegara a hora de ser lançado como uma flecha polida no coração dos gentios pela Palavra de Deus. Todavia, deve-se lembrar de que sempre haverá novas situações na obra de Deus, em que as nossas experiências são insuficientes. Quando isso acontece, é porque Deus quer que seja usada fé e não nossos conhecimentos anteriores. Paulo possuía uma vantagem que jamais deve ser ignorada, a presença e a revelação divina.

Jo 14.26: “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

A psicologia educacional ensina que o homem aprende 20% do que ouve; 30% do que vê; 70% do que se examina; 90% do que faz; 90% do que se fala. Através de todos estes sentidos Paulo acumulou experiências que lhe foram úteis ao longo de sua carreira cristã; porém o servo de Deus deve sempre manter em mente a sua necessidade de estar continuamente aprendendo através da presença do Espírito Santo, pois ele nunca sabe tudo, e além disto, ele deve manter a sua dependência de Deus em todas as situações, pois conforme o próprio Senhor Jesus disse em Jo 15.4,5: “Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.

1.3 Um servo submisso – Nem Barnabé, nem Paulo fizeram qualquer questionamento sobre ir mundo afora ao longo do Império Romano. Em verdade, Deus já vinha trabalhando desde antes, falando, confirmando e provendo experiências para o momento devido que havia chegado ali em Antioquia. Paulo aprendeu ouvir a voz do Senhor desde o caminho de Damasco em diante. Com esse ouvir, ele atendia prontamente como um servo. Tanto para trabalhar, quanto para não trabalhar (At 16.6,7); tanto para fugir de uma cidade que ficara para dar testemunho, quanto para suportar as pressões de uma perseguição por amor aos escolhidos (At 18.9,10; 22.17,18). Aqui reside um grande segredo, quando se aprende a atender a voz do Senhor prontamente, ele vai falando mais e mais conosco.

At 16.6,7: “E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia. E, quando chegaram a Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu”.

At 18.9,10: “E disse o Senhor em visão a Paulo: Não temas, mas fala, e não te cales; porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade”.

At 22.17,18: “E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. E vi aquele que me dizia: Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém; porque não receberão o teu testemunho acerca de mim”.

2. Um soldado valoroso – Quando Barnabé e Paulo saíram de Antioquia sob as ordens do Senhor levaram como cooperador a João Marcos, com a finalidade de ele instruir sobre os rudimentos da fé aos novos convertidos e batiza-los enquanto os missionários se dedicariam a pregar aos ainda não convertidos.

At 13.4,5: “E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. E, chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus; e tinham também a João como cooperador”.

João Marcos aparentemente era um judeu nativo de Jerusalém. Sua mãe chamada Maria, era aparentada com Barnabé conforme Cl 4.10. A casa de Maria parece ter sido usada para reunião da igreja primitiva (At 12.12). João Marcos foi levado a Antioquia por Barnabé e Paulo quando estes regressavam de sua missão de levar ajuda aos crentes de Jerusalém (At 12.25). Por ocasião da primeira viagem missionária, Barnabé e Paulo levaram consigo João Marcos, entretanto quando o grupo chegou em Perge, João Marcos os deixou e retornou a Jerusalém, fato este que mais tarde, por ocasião da segunda viagem missionária veio a causar a separação de Paulo e Barnabé (At 15.38). No tempo em que foi escrito Cl 4.10, no entanto, Marcos estava em companhia de Paulo, prisioneiro em Roma. Em Fm 24, Paulo mais uma vez menciona o nome de Marcos. Pelo tempo que foi escrito 2 Tm 4.11, Marcos estava viajando em companhia de Timóteo, fatos estes que indicam que o passado foi perdoado. Em At 13.4,5, o autor de Atos fala da presença de João Marcos junto a Paulo e Barnabé na primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé referindo-se a ele como seus cooperador, o que indica o quanto ele lhes seria útil naquela viagem, o que, porém não pode-se completar devido a sua deserção.

2.1 Um servo sofredor – Depois de Chipre, terra natal de Barnabé, Paulo assumiu a liderança da missão. Evidentemente, que Paulo foi sempre o que assumiu mais riscos em prol do Evangelho, por causa do seu jeito mais ousado de falar. Em Antioquia da Psídia, por causa da multidão que creu, Paulo foi banido da cidade (At 13.50); em Icônio, eles fugiram a tempo para não serem apedrejados (At 14.6); em Listra, Paulo curou a um coxo de nascença, sendo apedrejado depois pelos judeus de Antioquia e Icônio, e jogado no lixão da cidade (At 14.19). O próprio Paulo ensinava que, “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Os sofrimentos e humilhações foram incontáveis ao longo do seu ministério apostólico entre os gentios. Por isso disse a Timóteo: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”.

Depois da partida de João Marcos, Paulo e Barnabé seguiram para Antioquia da Psídia. De Antioquia eles seguiram para Icônio, Listra e Derbe. Os missionários retornaram depois, passando novamente por todas estas cidades até chegarem de volta a Antioquia da Síria. Nestas cidades foram feitos muitos discípulos, mas em todas elas, Paulo e Barnabé sofreram perseguições por causa do anúncio do evangelho entre os gentios.

At 13.48-51: “E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos estavam ordenados para a vida eterna. E a palavra do Senhor se divulgava por toda aquela província. Mas os judeus incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos. Sacudindo, porém, contra eles o pó dos seus pés, partiram para Icônio”.

At 14.1-6: “E aconteceu que em Icônio entraram juntos na sinagoga dos judeus, e falaram de tal modo que creu uma grande multidão, não só de judeus mas de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram, contra os irmãos, os ânimos dos gentios. Detiveram-se, pois, muito tempo, falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à palavra da sua graça, permitindo que por suas mãos se fizessem sinais e prodígios. E dividiu-se a multidão da cidade; e uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos. E havendo um motim, tanto dos judeus como dos gentios, com os seus principais, para os insultarem e apedrejarem, sabendo-o eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades de Licaônia, e para a província circunvizinha”.

At 14.19-22: “Sobrevieram, porém, uns judeus de Antioquia e de Icônio que, tendo convencido a multidão, apedrejaram a Paulo e o arrastaram para fora da cidade, cuidando que estava morto. Mas, rodeando-o os discípulos, levantou-se, e entrou na cidade, e no dia seguinte saiu com Barnabé para Derbe. E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia, confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus”.

2.2 Um missionário estrategista – O que traz vitória na guerra é uma boa estratégia, e Paulo era um ótimo estrategista na evangelização. Ele sempre priorizava os judeus, pois estavam organizados nas cidades e tinham a sua sinagoga. Ali eles já desenvolviam um trabalho de proselitismo ao derredor; entre os gentios, o que facilitava muito para o trabalho de Paulo, por isso, como fariseu que era, ia aos sábados nas sinagogas e pregava a todos os que estivessem lá.

Jo 1.11-13: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.

Rm 1.16: “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego”.

Paulo desenvolveu seu trabalho missionário pregando inicialmente entre os judeus, pois, conforme a própria palavra de Deus diz, Jesus veio inicialmente para os judeus, os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó. As sinagogas espalhadas devido o longo histórico de dispersão judaica desde o cativeiro assírico e babilônico contribuíram em muito para a pregação do evangelho através de todo Império Romano. Estas sinagogas eram freqüentadas por judeus que ali estudavam as Escrituras, e também por gentios sendo estes prosélitos, tementes a Deus ou simpatizantes do judaísmo. O anúncio da salvação em Cristo Jesus normalmente provocava a divisão das sinagogas, pois haviam aqueles judeus que não aceitavam a verdade quanto a pessoa de Jesus Cristo. Paulo deixava então aquela sinagoga e partia juntamente com judeus e gentios que haviam se convertido a fé em Jesus Cristo para então se dedicar à pregação entre os gentios naquela cidade onde ele estava então exercendo o trabalho missionário.  

2.3 Um líder adaptável – Paulo era flexível em seu método de abordagem, para os judeus ele falava como sendo judeu, ele usava a Lei, com os Profetas lhes relembrando as promessas de um Messias sofredor, etc... Mas para com os gentios, ele falava como se fosse gentio, de maneira que falava positivamente do Criador de todas as coisas e que enviara seu Filho, como fez em Listra. Como ele mesmo escreveu: Fiz-me de escravo, de judeu, de fraco, enfim, “Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (1 Co 9.22b). Paulo, em seus dias, enfrentava uma diversidade cultural muito grande, porém a mensagem do evangelho não é privilégio de alguns, e sim, para todos os povos. Assim, quando abordava as pessoas, ele procurava um ponto de contato social ou cultural que o identificasse com seus ouvintes e eliminasse as barreiras psicológicas para aplicar o evangelho com eficácia. Logo, fica claro, que ele não chegava impondo a sua cultura ou desrespeitando as outras crenças, mas anunciava, com muito tato, a salvação em Jesus Cristo.

Em 1 Co 9.19-23 Paulo escreve: “Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele”. As palavras de Paulo não indicam, no entanto que qualquer tipo de atividade é justificável ao cristão para que desta forma ele possa trazer almas para o Senhor Jesus. O cristão deve ter sempre em mente os limites de sua ação, de forma que no anseio evangelístico ele não utilize meios que venham então a profanar o nome do Senhor.

3. Um homem resignado – A carreira de um homem é determinada pelo constante preparo, e pela dedicação integral no exercício de sua escolha. Nos antigos jogos gregos de Olímpia, que inspirou a moderna olimpíada era declarada uma trégua entre as cidades que se rivalizavam para que os atletas chegassem com segurança, tais homens representavam a sua cidade de origem, e, no retorno, eram celebrados como heróis por elas quando campeões. Paulo era, portanto, um homem tal qual um atleta do Reino de Deus que tinha em mente alcançar uma coroa que não se deteriora.

A palavra resignado denota a capacidade de alguém em se conformar, ceder, renunciar ou desobrigar-se. Este foi o princípio de vida adotado por Paulo em favor do evangelho. Por amor a Jesus Cristo e àqueles que haviam de herdar a salvação, Paulo muitas vezes renunciou não somente a si mesmo, mas também a direitos que porventura ele poderia usufruir na pregação do evangelho.

3.1 O objetivo de Paulo (1 Co 9.26a) – Paulo, como atleta-missionário, tinha uma marca a atingir, isso significa dedicação integral, ele não podia se distrair com outra coisa que o afastasse de seu alvo. A sua dedicação era tão intensa que não admitia desistências como no caso de João Marcos, que diante de Perge na Panfília os deixou. Se bem que lá era um lugar montanhoso, arriscado e infestado de ladrões. Contudo, para Paulo, tratava-se apenas de um obstáculo a ser vencido a fim de chegar ao seu destino. Ele tinha uma marca a atingir; depois de apedrejado em Listra, e ali dado como morto, Paulo escapou, mas em seguida levanta-se e entra na cidade novamente. Tentamos entender o que havia na mente de Paulo, para que mesmo tomando uma surra de varas em praça pública e sendo injustamente preso, ainda assim insistia em permanecer em Filipos (At 16.37-39). Posteriormente, Paulo mesmo dá uma resposta: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.14).

Hb 12.1: “Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta”.

3.2 Assim combato, não como batendo no ar (1 Co 9.26b)  – Os desafios de um missionário são grandiosos, existe um combate pelo estabelecimento do Reino de Deus e bem sabemos que Satanás de alguma forma contra-atacará. À medida que um obreiro vai tendo êxito, ele tentará distrair o servo de Deus consigo mesmo, fazendo-o achar-se mais santo, um escolhido de Deus, e um anjo do céu na terra. Paulo não admitia perda de tempo, pois o elemento com que trabalha é eterno. Assim, quando ele achava que tinha terminado o seu testemunho em determinado lugar, mudava-se para outro, pois a vida é curta, o tempo passa, e aquela geração se não for evangelizada, perder-se-á. Ao mirar para as Santas Escrituras, elas são confrontadas com elevado padrão dos primórdios evangelizadores.

Mt 10.23: “Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel sem que venha o Filho do homem”.

1 Co 7.29-31: “Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; e os que choram, como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não abusassem, porque a aparência deste mundo passa”.

3.3 Para alcançar uma coroa incorruptível (1 Co 9.25) – Numa olimpíada, o descumprimento das regras implicava penalidades e até na eliminação da competição como acontece em nossos dias. Por outro lado, qualquer prêmio que não represente uma participação legítima não tem valor. No Reino de Deus, a desclassificação é muito real, só que, às vezes, o atleta (crente) nem percebe que foi eliminado. O sofrimento e a ingratidão no trabalho ministerial pode tornar um coração ressentido, insensível e, é assim que muitos, na verdade, estão fazendo a obra de Deus. Imaginando que tem aceitação dele, quando, na verdade, estão desclassificados há tempos, e tudo, quanto fizerem, não terá louvor algum diante de Deus. Noutras palavras, significa que a coroa incorruptível, de justiça, imarcescível jamais será alcançada por um desclassificado. Para evitar a desclassificação, o obreiro esmurra o próprio corpo e o reduz a escravidão, para que ao evangelizar a outros não seja desqualificado (1 Co 9.27). É desse homem que estamos falando. Paulo assim o fez.

1 Co 925-27: “E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois, eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado”.

Em 1 Co 9.25-26, Paulo traz em figura a vida de um atleta ou de um lutador. Ele lembra que todo atleta ou lutador deve exercitar autocontrole sobre si mesmo em relação aos seus desejos, para deve forma ser um vencedor. Estes, porém recebem um coroa corruptível, uma guirlanda de flores ou folhas que logo murcham. Paulo lembra que a coroa pelo qual o cristão luta é a coroa incorruptível reservada para todos que forem fiel a Jesus Cristo. Em vista desta coroa, Paulo declara que corre, não sem meta, como desferindo golpes no ar. Sua intenção era acertar o alvo em relação a si mesmo e em relação àqueles para quem ele deixava seu testemunho. Em 1 Co 9.27, Paulo fala então da disciplina a qual ele impunha a si mesmo, para que, naquilo que havia pregado a outros, ele próprio não viesse a ser desqualificado ou ser reprovado. Acerca desta palavras, W. MacDonald (2008, pp. 504, 505) faz o seguinte comentário:

“O apóstolo Paulo tinha consciência da assustadora possibilidade de, depois de haver pregado a outros, ser ele próprio desqualificado. Esse versículo costume gerar controvérsia. Para alguns, ensina que a pessoa pode ser salva e depois perder-se [...] Para outros [...] Paulo não está ensinando a possibilidade de desqualificação de uma pessoa salva, mas simplesmente diz que quem não é capaz de exercer autodisciplina nunca foi salvo de fato.  [...] De acordo com outra explicação ainda, Paulo não está falando de salvação, mas de serviço. Não sugere que poderia perder-se, mas que seria reprovado no tocante ao seu serviço e, portanto, não receberia o prêmio. Essa interpretação se encaixa perfeitamente com o significado da palavra desqualificado e com o contexto esportivo. Paulo reconhece a possibilidade terrível de, após haver pregado a outros, ele próprio ser colocado no banco de reservas pelo Senhor e não lhe ser mais útil. De qualquer modo, trata-se de uma passagem extremamente séria, que deve levar a uma profunda introspecção todos aqueles que almejam servir ao Senhor Jesus. Pela graça de Deus, cada um deve tomar a firme decisão de que jamais aprenderá o significado da palavra ‘desqualifica’ por experiência própria”.

Referências Bibliográficas:
W. MacDonald, Comentário Bíblico Popular – Novo Testamento, 2008, 1ª Ed., Mundo Cristão, São Paulo, SP.

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