quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

LIÇÃO 4 - A FUGA DE JACÓ E A VISÃO DA ESCADA

Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula da Escola Dominical
Revista: Jacó
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara

Texto Áureo: “Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela” (Gn 28.18).

Verdade Aplicada: Deus cumpre os seus propósitos, mas, se por desobediência, não cumprirmos sua vontade, Ele nos disciplinará.

Objetivos da Lição:

·  Apresentar que os objetivos divinos sempre serão alcançados.
·  Ensinar quem não está na vontade de Deus, será disciplinado.
·  Mostrar que Deus não desampara os seus escolhidos.

Textos de Referência: Gn 28.2,12-16

Introdução: Muitas pessoas usam de sofismas para fugir à culpa, já que são tomadas pelo medo de viver uma vida de mentiras. Um profundo temor toma conta do coração dessas pessoas. O medo de serem descobertas em seus delitos aterroriza seus pensamentos mais flutuantes. Mas é preciso acreditar que maior é Deus para nos livrar e nos perdoar da culpa.

A palavra sofisma significa raciocínio astuto, enganador. Assim, parece que o que o comentarista quer dizer é que muitas pessoas, para não serem descobertas em seus delitos, utilizam-se de seu raciocínio astuto de forma que este possa lhe conduzir a situações que venham a encobrir os seus atos contrários a uma vida de retidão. Este foi o caso, por exemplo, de Davi. Tendo ele cometido o ato de adultério com Bate-Seba e ela engravidado, ele tentou encobrir o pecado, trazendo Urias, esposo de Bate-Seba de volta a Jerusalém para que ele se deitasse com sua esposa. Urias, porém por sua fidelidade à nação de Israel mantém-se afastado de sua esposa e assim o plano de Davi não tem sucesso. Como conseqüência, Davi utiliza-se de outro raciocínio enviando uma carta a Joabe para que Urias fosse colocado a frente da batalha e morresse. O plano de Davi é efetuado com sucesso, ele, porém não teria paz, pois tudo aquilo que é feito em oculto, não está encoberto aos olhos de Deus (cf. 2 Sm 11.1-27). A única maneira de Davi, ou qualquer outra pessoa em situações semelhantes voltar a ter paz, é reconhecer os seus pecados e com arrependimento confessa-los diante de Deus, crendo na misericórdia do Senhor para livrá-los e perdoar de toda culpa.

Sl 32.3-5: Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado e a minha maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado”.

Pv 28.13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia”.

1 Jo 1.9: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”.

1. A fuga de Jacó – Jacó era um peregrino em fuga. Seus pecados e virtudes o acompanhavam, por onde quer que ele fosse. Sua história foi um misto de aventuras entre o céu (a escada do sonho) e o inferno (fuga de seu irmão). Sua vida só seria resolvida quando ele encontrasse o caminho da reconciliação com parte da sua família, consigo e com o próprio Deus.

O capítulo 28 de Gênesis trata da fuga de Jacó de seu irmão Esaú. Jacó enganou seu pai para conseguir a bênção em lugar de Esaú; ele começaria, por conseqüência a colher os frutos amargos de seu procedimento. A jornada empreendida por Jacó desde sua saída da casa de seu pai mostra sim um misto, porém um misto formado entre a disciplina e a graça de Deus. Deus utilizar-se-ia das circunstâncias vividas por Jacó para disciplina-lo, porém ao mesmo tempo, Ele manifestaria sua bondade na vida de Jacó, o que culminaria por fim, no retorno de Jacó ao seu lar e na reconciliação com seu irmão Esaú.

Mt 5.23,24: “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-se primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta”.

1.1 Jacó foge para escapar da morte – Jacó precisou fugir porque seu irmão se consolava pensando em matá-lo quando seu pai morresse (Gn 27.41), e ele pensava que isso logo ocorreria pelo estado de saúde de Isaque, mas não foi o que aconteceu, pois quando Jacó voltou de Padã-Arã, Isaque ainda estava vivo (Gn 35.27-29). Jacó recebeu sua bênção por meio de fraude, não pode mais permanecer em sua casa, tornando-se um fugitivo. Quando Rebeca tomou conhecimento da intenção de Esaú, logo percebeu que teria que perder a companhia de Jacó para poder salva-lo.

Conforme foi visto na lição anterior, tendo Isaque envelhecido e os seus olhos escurecidos, ele decidiu abençoar Esaú pensando estar próximo o dia da sua morte (cf. Gn 27.1-3). Isaque tinha nesta ocasião aproximadamente 138 anos e, apesar dele pensar que estaria próximo o dia de sua morte, ele viveria ainda aproximadamente 42 anos (veja na nota abaixo o cálculo da idade de Isaque por ocasião do engano). Jacó enganou Isaque e por conseqüência, ele foi abençoado no lugar de Esaú (ver Gn 27.14-29). Quando Esaú chegou a seu pai trazendo-lhe o guisado saboroso, o engano foi descoberto e Esaú entendeu que Jacó havia enganado seu pai (cf. Gn 27.30-36). Esaú suplicou a seu pai que ele lhe concedesse sua bênção, porém Isaque lhe disse: “Eis que o tenho posto por senhor sobre ti, e todos os seus irmãos lhe tenho dado por servos; e de trigo e de mosto o tenho fortalecido; que te farei, pois, agora a ti, meu filho?” (Gn 27.37). Esaú ainda insiste com seu pai e com lágrimas ele busca a sua bênção, porém Isaque não poderia voltar atrás naquilo que já estava estabelecido sobre a vida de Jacó e seus descendentes (cf. Gn 27.38). Diante do choro de Esaú, Isaque responde a seu filho, mostrando-lhe o futuro que lhe estaria reservado com as seguintes palavras: “Eis que a tua habitação será longe das gorduras da terra e sem orvalho dos céus. E pela tua espada viverás e ao teu irmão servirás. Acontecerá, porém, que, quando te libertares, então sacudirás o seu jugo do teu pescoço” (Gn 27.39,40). Conforme pode-se perceber, as palavras de Isaque proferidas diante de Esaú sugere que os descendentes de Esaú viveriam em lugares desertos, fato este que se cumpre mais tarde por sua possessão da região menos fértil que tornou-se conhecida como Edom, e além disto eles seriam guerreiros. Eles tornar-se-iam vassalos dos israelitas, o que vem a se tornar realidade no reinado de Davi (cf. 2 Sm 8.14), porém um dia se rebelariam contra esse domínio, fato este que também vem a se tornar realidade no reinado de Jeorão, rei de Judá (cf. 2 Rs 8.20-22). Vendo Esaú a bênção que seu pai havia outorgado a Jacó, ele planeja matar Jacó assim que Isaque morresse e se cumprisse os dias de seu luto: “E aborreceu Esaú a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu pai; então, matarei a Jacó, meu irmão” (Gn 27.41). As palavras de Esaú são denunciadas a Rebeca que sugere então que Jacó se refugiasse em casa de Labão, conforme as seguintes palavras descritas em Gn 27.42-45: “Eis que Esaú, teu irmão, se consola a teu respeito, propondo-se matar-te. Agora, pois, meu filho, ouve a minha voz: Levanta-te e acolhe-te a Labão, meu irmão, em Harã; e mora com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão, até que se desvie de ti a ira de teu irmão, e se esqueça do que lhe fizeste. Então, enviarei e te farei vir de lá. Por que seria eu desfilhada também de vós ambos num mesmo dia?” (Gn 27.42b-45). 

NOTA: Quando Esaú e Jacó nasceram Isaque tinha 60 anos (Gn 25.26). Por ocasião do casamento de Esaú com mulheres hetéias, Esaú tinha 40 anos. Então nesta ocasião Isaque já estava com 100 anos. Jacó tinha 130 anos quando ele encontrou com José no Egito (Gn 47.9). Neste período José devia ter 39 anos, pois ele tinha 30 anos quando se apresentou a Faraó (Gn 41.46) e depois disto passaram-se 7 anos de fartura (Gn 41.53) e 2 anos de fome (Gn 45.6). Isto significa que quando José nasceu, Jacó tinha 91 anos. Por ocasião do nascimento de José já tinha passado 14 anos que Jacó estava na casa de Labão (Gn 31.41). Então quer dizer que Jacó tinha de 77 a 78 anos quando fugiu de Esaú. A idade de Isaque neste período era então de 137 a 138 anos (60 anos + os 77 ou 78 anos de Jacó).

1.2 Jacó foge para Padã-Arã – Jacó estava indo para Padã-Arã, a terra do irmão de sua mãe por ordem de seu pai (Gn 28.2). Estava começando a segunda fase de sua vida, pois até agora, Jacó conseguira tudo que queria não importando os meios utilizados, desde que o fim fosse alcançado. Deve-se aprender com as atitudes de Jacó para que os mesmos erros não sejam cometidos, pois os aparentes sucessos, quando não são pelos caminhos de Deus, podem tornar-nos crentes fugitivos.

Conforme foi visto na lição anterior, nem Rebeca, nem Jacó confiaram em Deus quanto a promessa feita em relação a Jacó, o que os levou a tomarem atitudes precipitadas. Rebeca pensou que Jacó permaneceria na casa de Labão em Harã, apenas alguns dias, até que o furor de Esaú passasse, e então ela traria Jacó de volta. Rebeca, porém nunca pode fazer isto, o que indica que Esaú alimentou seu ódio durante muito tempo ainda (cf. Gn 27.42-45), e diante disto Jacó permaneceu distante por um longo período de 20 anos. Tal é a conseqüência na vida de Rebeca e de Jacó, provavelmente eles não mais se viram já que depois disto a Bíblia silencia-se a respeito de Rebeca. É uma grande lição para todos os cristãos, para que estes não venham, em quaisquer circunstâncias, utilizar-se de meios escusos para conseguir aquilo que desejam, mas que saibam esperar e confiar no Senhor.

Sl 13.5: “Mas eu confio na tua benignidade; na tua salvação, meu coração se alegrará”.

Sl 37.3-5: “Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra e, verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará”.

Pv 16.20: “O que atenta prudentemente para a palavra achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado”.

Jr 17.7: “Bendito o varão que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor”.

1 Pe 3.10: “Porque quem quer amar a vida e ver os dias bons, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem mais engano; aparte-se do mal e faça o bem; busque a paz e siga-a. Porque os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos, atentos às suas orações; mas o rosto do Senhor é contra os que fazem males”.
                                
1.3 Jacó foge com a bênção do pai – Isaque abençoou e despediu Jacó começando uma dolorosa separação de membros da família. A bênção paterna acompanhou Jacó e ele tornou-se o portador da bênção de Abraão e ficou satisfeito pela bênção, mas sofrendo pelas dificuldades da viagem. O ato de abençoar Jacó quando estava saindo de casa, revelou que Isaque parecia concordar com que o portador da bênção divina seria Jacó e não Esaú. Jacó passou a ser o veículo da bênção de Abraão, a promessa de uma numerosa posteridade e a posse da terra prometida. O livro de Provérbios diz: A bênção do Senhor é que enriquece; e não traz consigo dores” (Pv 10.22), mas no caso de Jacó vieram muitas dores por causas das atitudes tomadas por ele.

Para justificar a necessidade de Jacó partir, Rebeca diz a Isaque que não gostaria de ver Jacó casado com uma mulher hetéia, como fizera Esaú (cf. Gn 26.34,35; 27.46). Isaque então chama Jacó e lhe dá sua bênção. Em seguida ele o envia a Padã-Arã, região situada na Mesopotâmia, para ali ele encontrar esposa para si entre os parentes de sua mãe que ali habitavam e não entre os cananeus. Jacó segue debaixo da bênção paterna, sendo-lhe confirmado que seria através de seus descendentes que a promessa de Deus feita a Abraão teria seu cumprimento.

Gn 28.1-4: “E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã. Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das filhas de Labão, irmão de tua mãe. E Deus Todo-poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos; e te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua semente contigo, para que em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão”.

2. O sonho de Jacó (Gn 28.10-17) Uma das metáforas da vida espiritual em direção a Deus é a jornada. Mas para se encontrar com o Eterno é necessário mais do que se mover geograficamente. Em essência, todos são peregrinos. Mas nessa peregrinação, homens como Jacó buscaram muito mais que um lugar; eles ousaram e foram mais além, “pois ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus” (Hb 11.10).

Hb 11.8-10: “Pela fé, Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia. Pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa. Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus”.

O texto em apreço de Hb 11.8-10 diz respeito a Abraão e não a Jacó. Apesar de Abraão ter recebido a promessa quanto a terra prometida, ele contemplava pela fé, que sua jornada não estava limitada a possessão desta terra, pelo contrário, ela ia além, ia de encontro a cidade celestial, o local da habitação de Deus, e é diante disto que ele aceita e se conforma em habitar na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó.
Jacó, herdeiro das promessas de Deus feita a Abraão, crê no cumprimento destas promessas, no entanto em sua jornada ele seria ainda levado a compreender que sua vida não estava limitada ao seu retorno à terra das suas peregrinações e à sua possessão, mas ela deveria ir além, deveria ir, em primeira instância, ao encontro do conhecimento de Deus, o Deus de Abraão e de Isaque que estaria com ele em toda sua jornada, não por seus próprios méritos, nem tampouco por aquilo que ele poderia lhe dar em troca, mas unicamente por sua graça a qual aprouve a Ele manifestar em sua vida.  

2.1 Um travesseiro de pedra – Uma entrega ao cansaço. Esta é a cena do capítulo vinte e oito do primeiro livro da Bíblia. Após viajar dois ou três dias, saindo de Berseba, Jacó encontrou uma pedra e a fez como seu travesseiro. Essa foi a trajetória que Jacó teve de fazer para encontrar a si mesmo e a Deus.

Gn 28.10,11: “Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi-se a Harã. E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar”.

O texto de Gn 28.10,11 mostra o total desamparo em que se encontrava Jacó em sua jornada, sendo que ele nada mais teria, senão pedras em seu caminho, se não fosse a manifestação da graça de Deus em sua vida. A pedra que ele toma daquele lugar e a põe por sua cabeceira não lhe traria conforto algum, pelo contrário, ela com certeza lhe traria dores em seu corpo físico e angústia na sua alma; o conforto, em meio as dores no entanto viria de Deus, que já naquele momento manifesta-se a Jacó revelando-lhe toda sua bondade para que assim, Jacó prosseguisse em sua jornada.

2.2 Uma escada que toca no Céu (Gn 28.12) – Jacó tem um sonho e na primeira parte de sua visão ele vê uma escada. Em seguida vê anjos subindo e descendo nesta mesma escada e na última parte da visão vê o Senhor no alto da escada (Gn 28.13). Na visão, Deus promete sustentar a fé de Jacó, promete protege-lo e garante o retorno para seu lar (Gn 28.15). Jacó é homem de sonhos e visões. Na Bíblia ele é o primeiro a ter sonhos claramente descritos. Para muitos, o significado dos sonhos pode estar intrinsicamente relacionado às ocupações de nosso dia a dia. O que Sigmund Freud chama de “resíduos do dia”. No entendimento do pai da psicanálise, os sonhos expressam desejos não satisfeitos e pulsões instintivas originadas na mais tenra infância ou por desejos reprimidos. Portanto os sonhos para ele são o melhor caminho para o inconsciente. Mas o sonho de Jacó, apesar de trazer à superfície, boa parte dos resíduos da sua alma, também era a revelação de Deus a ele e de si mesmo ao mesmo tempo.

Gn 28.12-15: “E sonhou: E eis que era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. E eis que o Senhor estava em cima dela e disse: Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai, e o Deus de Isaque. Esta terra em que estás deitado ta darei a ti e à tua semente. E a tua semente será como o pó da terra; e estender-se-á ao ocidente , e ao oriente, e ao norte, e ao sul; e em ti e na tua semente serão benditas todas as famílias da terra. E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores e te farei tornar a esta terra, porque te não deixarei, até que te haja feito o que te tenho dito”.

O texto de Gn 28.12-15 descreve o sonho de Jacó, sendo que neste Deus revela a Jacó seus propósitos a seu respeito e a respeito de sua descendência. Jacó vê uma escada cujo topo tocava nos céus, e os anjos de Deus que subiam e desciam por ela. Em Jo 1.51, Jesus se refere a esta escada através de suas palavras dita a Natanael quando então Ele diz: “Na verdade, na verdade vos digo que, daqui em diante, vereis o céu aberto e os anjos de Deus subirem e descerem sobre o Filho do Homem”. A escada do sonho de Jacó mostra, portanto o elo de ligação entre o céu e a terra que se daria a partir da descendência de Jacó, o que literalmente se cumpre com a vinda de Jesus Cristo à terra, pois é Ele, o único elo entre a terra e o céu, ou por assim dizer, o único meio do homem chegar ao céu. A presença dos anjos subindo e descendo a escada tem dupla referência. Ela evidencia a proteção de Deus que seria outorgada a Jacó, e ao mesmo tempo evidencia a presença dos anjos a serviço de Jesus em seu ministério terreno. Deus confirma a Jacó o seu concerto com Abraão e Isaque, sendo este estendido a ele e a sua descendência e lhe garante também a sua presença junto a ele para lhe guardar, dando-lhe ainda a garantia de seu retorno à terra das suas peregrinações.

2.3 Deus de Abraão de Isaque e de Jacó (Gn 28.15) – As mesmas promessas que o Senhor havia feito a Abraão e a Isaque, neste episódio, foram feitas a Jacó. Porém, na relação que Deus passaria a ter com Jacó, não seria suficiente ser chamado de filho de Abraão e filho de Isaque; chegara a hora de Jacó também ser reconhecido como filho (Jo 1.11,12).

Conforme visto anteriormente, no sonho de Jacó, Deus revela seus propósitos a seu respeito e a respeito de sua descendência. Deus confirma seu concerto com Abraão e Isaque e firma seu concerto também com Jacó e sua descendência. A partir de então Deus seria conhecido como o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, nome este que enfatiza a graça de Deus sobre os homens, pois tanto Abraão, como Isaque e também Jacó eram homens falhos e imperfeitos, porém Deus cumpriria seus propósitos através de suas vidas; e a fidelidade de Deus, pois Deus cumpriria suas promessas na vida dos descendentes de Abraão, Isaque e Jacó, a despeito da infidelidade que seria demonstrada ao longo da história do povo de Israel.

2 Tm 2.11-13: “Palavra fiel é esta: Que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo”. 

3. O testemunho de Jacó – O salmista tinha razão quando escreveu, momentos depois, que o sofrimento tem um tempo específico na história de um servo de Deus. “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida; o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Naquele dia o Senhor o Senhor revisitou a humanidade.

O Sl 7.11 diz que Deus é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias. A Bíblia mostra que a ira de Deus pode-se acender, mas também ela diz que Deus é tardio em irar-se e que a sua ira é passageira. Assim, a ira de Deus é uma realidade mostrada ao longo de toda Escritura, mas também o é a sua misericórdia.

Sl 103.8,9: “Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade. Não repreenderá perpetuamente, nem para sempre conservará a sua ira”.

3.1 Testemunhando em Betel (Gn 28.16-18) – Quando Jacó acordou do sono, percebeu a visão e testemunhou que aquele lugar se tornara a casa de Deus; era o início de uma nova história para ele. Aquele local se tornou o eixo entre o céu e a terra, e então ele rebatizou o lugar de Betel – casa de Deus – antes conhecido com o nome de Luz.

Gn 28.16-19: Acordado, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus; e esta é a porta dos céus. Então levantou-se Jacó pela manhã, de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por sua cabeceira, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela. E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome, porém, daquela cidade, dantes era Luz”.

Quando Jacó acorda do sono, ele reconhece aquele lugar como sendo a “Casa de Deus”, porque ali ele teve uma visão da presença de Deus. Também ele reconhece aquele lugar como sendo a “porta dos céus” porque a escada chegava dos céus até aquele lugar. Jacó toma então a pedra que tinha posto por cabeceira e a põe por coluna, como um memorial à experiência que ele tinha tido ali com Deus. Depois disto, Jacó derrama azeite em cima daquela pedra consagrando aquele lugar a Deus, o que indica seu desejo de que aquele lugar viesse a ser um local separado para a eterna comunhão de Deus com o seu povo.

3.2 Testemunhando com um voto (Gn 28.20-22) – Então Jacó motivado pela revelação que lhe alcançou, fez um voto: Ele diz que se Deus cuidar dele, der comida e roupa, protege-lo da ânsia que seu irmão tinha de matá-lo, então Deus será o seu Deus. E a pedra que ele estava erguendo como um memorial seria um local onde seria uma Templo Sagrado; e por fim seria um dizimista de tudo que ele tivesse. Muitos estudiosos da Bíblia criticam este voto de Jacó por ser condicional. No entanto, vale a pena ressaltar que Deus não criticou o voto de Jacó. O filho de Isaque esteve profundamente impactado pelas promessas de Jeová; e foi sobre a força dessa promessa que ele respondeu. Sua intenção não foi de barganha, mas uma resposta aos favores de Deus sobre sua vida.

Gn 28.20-22: “E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor será o meu Deus; e esta pedra, que tenho posto por coluna, será Casa de Deus; e, de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo”.

O texto de Gn 28.20-22 mostra o voto que Jacó fez a Deus depois que ele erigiu a pedra por coluna naquele lugar onde o Senhor tinha se revelado a ele. Jacó não precisaria fazer aquele voto, pois Deus já lhe havia dado a garantia de estar com ele em quaisquer circunstâncias. Apesar de Deus não criticar o voto de Jacó, mais tarde, o próprio Senhor ensinaria a Jacó a respeito de seu caráter e de sua fidelidade, que não está condicionada àquilo que o homem pode lhe dar. Jacó, no entanto, faz o voto. Em troca de tudo o que o Senhor já se comprometera a fazer em sua vida, o Senhor seria o seu Deus, a pedra que ele tinha posto por coluna seria um Templo dedicado ao Senhor, e ele lhe entregaria o dízimo de tudo. Mackintosh (2001, pp. 246,247) faz o seguinte comentário acerca do voto de Jacó:

“Observe-se “se Deus for comigo”. Ora, o Senhor havia acabado de dizer enfaticamente: ‘... estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra’. E contudo o pobre coração de Jacó não pode ir além de um “se”, nem tão-pouco nos seus pensamentos de Deus pode elevar-se acima de ‘pão para comer, e vestidos para vestir’. Tais eram os pensamentos do homem que acaba de ter a visão magnificente da escada cujo topo tocava nos céus, com o Senhor em cima dela, e prometendo-lhe uma semente inumerável e um possessão eterna. Jacó era evidentemente incapaz de entender a realidade e plenitude dos pensamentos de Deus. Julgou Deus por si próprio, e deste modo falhou completamente em compreendê-lo. Numa palavra, Jacó não havia ainda chegado ao fim de si próprio; e por isso não havia começado realmente com Deus”.

3.3 Testemunhando com os anjos – Depois de décadas de materialismo e cientificismo, na comunidade ocidental, o interesse pelos anjos estão de volta. Os cristãos já entendem e experimentam essa realidade há muito tempo. Os anjos são mensageiros invisíveis de Deus para assistir os homens e mulheres em tempos difíceis (Hb 1.14). Jacó teve a alegria de contemplá-los de forma milagrosa, em seu sonho, e o resumo dessa experiência, foi que se percebeu que há uma linha de comunicação aberta na terra entre Deus e os homens. O extraordinário foi encontrado, aqui, no ordinário. Este lugar comum foi uma janela do céu para Jacó; foi um lugar temível (Gn 28.17); mas que mudaria para sempre sua história.

Acerca dos anjos o comentário feito na revista Jovens e Adultos Dominical (F. L. V. Alves, 2012, p. 26) é interessante de ser considerado:

“Os anjos são seres espirituais criados, dotados de juízo moral e alta inteligência, mas desprovidos de corpos físicos. Eles não existem desde sempre; fazem parte do universo que Deus criou (Ne 9.6; Sl 148.2,5; Cl 1.16). Há anjos que as Escrituras dão nomes a eles, a saber: Os Querubins (Gn 3.24; Sl 18.10; Ex 25.22); os Serafins (Is 6.2-7), e os Seres Viventes (Ez 1.5-14; Ap 4.6-8). Eles também não se casam (Mt 22.30; Lc 20.34-36) e só dois anjos são denominados na Bíblia: Miguel (Jd 9; Dn 10.13) e o anjo Gabriel (Dn 8.16; 9.21). É lamentável que muitos crentes têm afirmado conhecer os outros nomes por revelação pessoal. É mister ter muito cuidado com tais revelações e cultos que são orientados nesta direção (Cl 2.18; Ap 19.10)”.

Hb 1.14: “Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação”.

Cl 2.18: “Ninguém vos domine a seu bel prazer, com pretexto de humildade e culto aos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão”.

Referências Bibliográficas:
C.H. Mackintosh, Estudos Sobre o Livro de Gênesis, 2001, 3ª Ed., Depósito de Literatura Cristã, Diadema, SP.
F. L. V. Alves, Jovens e Adultos Dominical, Professor, 2012, n. 82, Ed. Betel, Rio de Janeiro, RJ.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

LIÇÃO 3 - A TRAMA DE JACÓ PARA ENGANAR SEU PAI

Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Av. Brasil, 740 – Juiz de Fora - MG
Elaboração da Aula para os Professores da Escola Dominical
Revista: Jacó
Prof. Magda Narciso Leite – Classe Sara

Texto Áureo: “E foi, e tomou-os, e trouxe-os a sua mãe; e sua mãe fez um guisado saboroso, como seu pai gostava” (Gn 27.14).

Verdade Aplicada: A interferência humana, nos planos de Deus, só traz prejuízos para o próprio homem, pois Deus é poderoso para fazer cumprir os seus desígnios.

Objetivos da Lição:

·   Apresentar a riqueza da bênção de Deus.
·   Ensinar o homem a depender completamente de Deus.
·   Mostrar que o engano traz frutos amargos.

Textos de Referência: Gn 27.15, 18, 19, 27-29

Introdução: Com o propósito de ter a bênção de Deus, Jacó aceita o conselho de sua mãe e prossegue com o plano de iludir seu velho pai Isaque. O engano culminou em desdobramentos sem precedentes na história da família da promessa. No entanto, a intensidade com que Jacó busca as bênçãos do Senhor, faz dele um verdadeiro lutador. Jacó é a imagem do homem que quer ser abençoado por Deus.

Da segunda para a terceira frase tem-se a expressão “no entanto” que é sinônimo de entretanto e equivale a porém, todavia, não obstante, etc. É chamado de conjunção, dá coesão às frases e mantém o sentido do que se está argumentando. Diante disso tem-se exposto aqui a defesa de um grave problema de distorção moral: Jacó iludiu e enganou, mas quis tanto a bênção que usou até meios escusos para consegui-la. Concordar que a intensidade do seu desejo é mérito que deve ser apreciado é concordar que os fins justificam os meios.
Existem “verdadeiros lutadores”, tanto pra o bem quanto para o mal. Romanos 3.15 afirma que os pés dos homens iníquos são ligeiros para “derramar sangue”. O simples empenho (por maior que seja) de uma pessoa para conseguir o que quer não faz dessa uma conduta louvável.
O Dicionário Internacional de Teologia (R. L. Harris, JR Archer, L. Gleason, B. Waltke, 1998, p. 1162) faz o seguinte comentário:

Jacó, o segundo dos filhos gêmeos de Isaque, experimentou a preeminência já antes do nascimento (Gn 25.23; um exemplo da eleição divina em geral, cf. Rm 9.11-13). Mas ele ganhou esse nome, pois, quando nasceu, “segurava [simbolicamente] com a mão o calcanhar de Esaú (Gn 25.29-34) e roubou a bênção de Isaque (27.1-29), Esaú exclamou: “Não é com razão que se chama Jacó? Pois já duas vezes me enganou” (27.36). No entanto em Betel, enquanto Jacó fugia de Esaú, Deus lhe assegurou que estava com ele (28.12,15) e renovou a aliança que previamente revelara a Abraão e a Isaque (vv. 13,14; cf. 17.7-8; 26.34; Lv 26.42). Jacó fez então o voto de que, a partir daí, Iavé seria o seu Deus e entregaria os seus dízimos  (Gn 28.20-22). Então em Peniel, enriquecido por obra do Senhor mas temeroso de encontrar-se com Esaú, pronunciou uma oração modelo (32.9-12). Em seguida Deus, na pessoa do Anjo de Iavé, presumivelmente Cristo pré-encarnado (vv. 24, 30; Os 12.4) encontrou-se com Jacó, com quem o patriarca, literalmente mas também em oração, lutou (Os 12.4). Quebrantado por Deus (Gn 32.25,26), foi assim que Jacó alcançou sua derradeira vitória e bênção espiritual (v. 29,30), pois o Anjo disse: “Não te chamarás mais Jacó [ya`ăqōb], suplantador, mas Israel [yiśrā´ēl], porque tens lutado [śārâ] com Deus e com os homens e tens prevalecido. [...] Os dois nomes, Israel e Jacó, tornaram-se designações honrosas para os descendentes do patriarca (de Nm 23 em diante; cf. 24.5, ou 17 [referência messiânica], Sl 47.4,5). Deus ama “Jacó” (Ml 1.62; cf. Rm 11.26). e então, por fim, a bênção se estende a todo o povo de Deus, “ tal é a geração daqueles que o buscam, daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó” (lit., Sl 24.6; cf. Gl 3.29).

Pode-se dizer então que o Jacó, da época do ardil para conseguir a primogenitura e do engano do seu pai cego no leito de morte é a imagem da pessoa que trapaceia para conseguir o que quer; o Jacó, porém amadurecido e transformado em Israel é a pessoa que quer seguir adiante, mas debaixo da bênção de Deus e fazendo o que é certo.

Dt 16.17: Cada um [aparecerá perante o Senhor], conforme ao dom da sua mão, conforme a bênção do Senhor teu Deus, que lhe tiver dado”.

Sl 24.3-5: “Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente. Este receberá a bênção do Senhor e a justiça do Deus da sua salvação”.

1. O plano de Rebeca – Rebeca sempre demonstrou preferência por Jacó e tendo ouvido de Deus que o maior serviria o menor (Gn 25.23), se desesperou quando soube que Isaque haveria de abençoar Esaú o seu primogênito. Não conseguindo confiar plenamente no que Deus lhe havia dito, decidiu chamar Jacó seu filho e por em prática um plano traiçoeiro para ludibriar Isaque, seu esposo (Gn 27.14).

O texto de Gn 25.19-23 traz o relato quanto a gravidez de Rebeca de seus dois filhos gêmeos Esaú e Jacó. Rebeca era estéril, porém Isaque orou insistentemente para que ela viesse a conceber. O Senhor ouviu as orações de Isaque e Rebeca recebeu a bênção. Deus já havia estabelecido o concerto com Abraão dando-lhe a promessa quanto a sua descendência (cf. Gn 12.1-3; 15.4-21). Em Gn 17.19, Deus fala com Abraão a respeito do cumprimento da promessa, sendo que esta se daria através da descendência de Isaque: “E disse Deus: Na verdade, Sara, tua mulher, te dará um filho, e chamarás o seu nome Isaque; e com ele estabelecerei o meu concerto, por concerto perpétuo para a sua semente depois dele”. A descendência de Isaque já estava, portanto garantida na promessa de Deus feita a Abraão; Isaque, porém busca a face do Senhor em oração para receber a sua bênção. Esta passagem ensina, assim, em primeira instância, que mesmo que a bênção de Deus já esteja prevista em seus planos a qualquer pessoa, isto não isenta o homem do dever de buscar ao Senhor continuamente apresentando a Ele seus anseios e suas necessidades. Em outras palavras, a concretização dos planos de Deus na vida de alguém se dá em resposta de Deus à oração de quem busca a sua face.
Quando Rebeca estava grávida, os filhos lutavam dentro dela e isto a leva a um questionamento: “Se assim é, por que sou eu assim” (Gn 25.22b), ou seja, se sua gravidez era resposta à oração feita por Isaque, porque ela sentia tantas dores, não deveria ser o contrário? Diante de tal fato, Rebeca pergunta ao Senhor o porquê daquela situação e o Senhor então lhe responde: “Duas nações há no teu ventre, e dois povos se dividirão das tuas entranhas: Um povo será mais forte do que o outro povo, e o maior servirá ao menor” (Gn 25.23). Rebeca recebe assim a revelação de que seu filho mais novo, no caso Jacó, teria proeminência sobre seu filho Esaú, pois seria através de Jacó que Deus daria continuidade à promessa feita a Abraão. C. H. Mackintosh (2003, pp. 230-232) escreve a respeito da resposta de Deus dada a Rebeca em Gn 25.23:

“Em Malaquias 1.2-3 faz-se referência a esta passagem, pois lemos: ‘Eu vos amei, diz o Senhor; mas vós dizeis: Em que nos amaste? Não foi Esaú irmão de Jacó? – disse o Senhor; todavia amei a Jacó e aborreci a Esaú”. Em Rm 9.11-13 faz-se também referência a esta mesma passagem: ‘Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú’. Temos assim claramente diante de nós o propósito eterno de Deus segundo a eleição da graça. Esta expressão quer dizer muito. Afasta todas as pretensões humanas e defende o direito de Deus atuar como quer. E isto é de grande importância. A criatura humana não pode gozar felicidade até curvar a sua cabeça perante a graça soberana. É seu dever fazê-lo, porquanto é pecador, e, como tal, sem direito a atuar ou ditar. O grande valor de posição sobre este terreno está em que não é mais uma questão do que nós merecemos, mas simplesmente daquilo que Deus tem prazer em nos dar. [...] Assim terá de ser sempre. A graça será eternamente a coroa de toda a obra de Deus. [...] Ora, em Jacó temos uma exibição notável do poder da graça divina; pela simples razão de que vemos um exemplo notável do poder da natureza humana. Vemos nele a natureza em toda a sua irregularidade e, portanto, vemos a graça em toda a sua beleza moral e poder. Dos fatos da sua extraordinária história parece que, antes do seu nascimento, quando do seu nascimento e depois do seu nascimento, a energia extraordinária da natureza foi notada. Antes do seu nascimento lemos: ‘Os filhos lutavam dentro dela’. Quando do seu nascimento: ‘Agarrada a sua mão ao calcanhar de Esaú’. E depois do seu nascimento – na verdade, até o ponto culminante da sua história, no capítulo 32, sem exceção – a sua carreira nada mais mostra senão os amáveis característicos da natureza; porém, tudo isto serve apenas, à semelhança de um fundo negro, para dar maior relevo à graça d’Aquele que condescendeu em chamar-se a si próprio pelo nome particularmente enternecedor de ‘Deus de Jacó’ – um nome agradavelmente expressivo da graça”.

1.1 Uma geração formada no engano – Rebeca executou com Jacó mais um exemplo de pecado entre as gerações na história de sua família. Antes Abraão e Sara enganaram o Faraó e outros reis (Gn 12.16-18), Isaque e Rebeca fizeram o mesmo (Gn 26.8,9). Isaque planejou secretamente abençoar Esaú (Gn 27.1-5), e secretamente Rebeca e Jacó planejaram enganar Isaque (Gn 27.6-29). Labão mais tarde enganou Jacó (Gn 29.21-27), e mais, os irmãos de José enganaram Jacó acerca da morte de seu irmão (Gn 37). Tamar enganou Judá (Gn 38). Até mesmo José acabou enganando seus irmãos por um tempo (Gn 44; 45).

Os fatos listados acima mostram a condição do homem pecador de geração em geração, confirmando aquilo que Paulo escreve em Rm 3.23: “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Assim, todos os homens são condenáveis diante de Deus e necessitados da sua graça. O pecado da mentira e do engano listados na família de Abraão e seus descendentes mostra como maus exemplos podem perpetuar na história de uma família, sendo repetidos de geração em geração e como as conseqüências vão sendo colhidas ao longo da vida de cada um, sendo cada qual responsável por suas próprias atitudes. Diante de tais exemplos e dos sofrimentos advindos em conseqüência deles, o ensino que fica é o de que atitudes contrárias a estas devem ser tomadas pelos cristãos, pois assim como mau exemplos podem ser seguidos por gerações futuras, o bom exemplo também o pode ser.

Sl 14.2,3: “O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um”.

Lm 3.39,40: “De que se queixa, pois, o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados. Esquadrinhemos os nossos caminhos, e provemo-los, e voltemos para o Senhor”.

Ez 18.2-4: “Que pensais, vós, os que usais esta parábola sobre a terra de Israel, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram? Vivo eu, diz o Senhor Deus, que nunca mais direis esta parábola em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá”.

Ez 18.18-20: “Seu pai, porque praticou a extorsão, roubou os bens do irmão, e fez o que não era bom no meio de seu povo, eis que ele morrerá pela sua iniqüidade. Mas dizeis: Por que não levará o filho a iniqüidade do pai? Porque o filho procedeu com retidão e justiça, e guardou todos os meus estatutos, e os praticou, por isso certamente viverá. A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”.

1.2 O plano preparado por Rebeca – Rebeca conhecia bem o gosto de seu esposo e pediu para Jacó trazer dois cabritos para ela preparar para Isaque (Gn 27.9). Ela estava decidida que a bênção deveria ser dada para Jacó e tinha plena confiança que faria uma boa imitação. Rebeca estava usando o conhecimento da intimidade de seu esposo para enganá-lo. Sua confiança era plena que nem temeu a eventualidade de uma maldição.

Isaque tinha aproximadamente 138 anos quando então ele decide conceder a sua bênção a Esaú seu primogênito. Obviamente, Isaque conhecia a vontade de Deus em relação a seus filhos já que esta tinha sido revelada a sua esposa; ele, porém desconsiderando a vontade de Deus e pensando já estar próximo o dia de sua morte decide abençoar Esaú em troca daquilo que Esaú poderia lhe conceder naquele momento, um guisado saboroso já que a caça era de seu gosto (cf. Gn 25.28). Isaque pede a Esaú que ele lhe preparasse algo saboroso e ele então o abençoaria: “Agora, pois, toma as tuas armas, a tua aljava e o teu arco, e sai ao campo, e apanha para mim alguma caça, e faze-me um guisado saboroso, como eu gosto, e traze-mo, para que eu coma, e para que minha alma te abençoe, antes que morra”. Rebeca escuta quando Isaque fala ao seu filho e diante disto, ela arquiteta o plano junto a Jacó de forma a enganar seu esposo. Jacó teme que seu pai viesse a distingui-lo de Esaú, e sendo ele enganador aos olhos de seu pai, o que ele traria sobre sua vida seria maldição e não bênção. Rebeca não se importa com a possibilidade da maldição vir sobre sua vida e assim ela diz: “Meu filho, sobre mim seja a tua maldição; somente obedece a minha voz, e vai, e traze-mos” (Gn 27.13). Jacó vendo-se então livre da possibilidade da maldição vir sobre sua vida, e não se incomodando com a sentença pronunciada por sua mãe em relação a si mesma, segue em frente trazendo a sua mãe dois cabritos dos quais então ela prepara um guisado saboroso como Isaque gostava. Conforme pode-se perceber nem Rebeca, nem Jacó demonstram qualquer tipo de confiança em Deus e assim eles agem precipitadamente em sua própria astúcia, o que traria, posteriormente desastrosas conseqüências. Se tivessem esperado em Deus, Ele com certeza agiria em favor de Jacó, já que seu propósito em relação a ele já tinha sido revelado a Rebeca. Isaque viveria ainda 42 anos depois de todo este acontecimento. Ele morreu com a idade de 180 anos (cf. Gn 35.28) o que indica que haveria tempo suficiente para Deus frustrar os planos de Isaque em relação a Esaú e assim a família permanecer debaixo da bênção do Senhor e não debaixo das conseqüências resultantes do engano.

Pv 10.22: “A bênção do Senhor é que enriquece, e ele não acrescenta dores”.

Pv 26.2: “Como o pássaro no seu vaguear, e como a andorinha no seu vôo, assim a maldição sem causa não virá”.

Sl 40.1: “Esperei com paciência no Senhor, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor”.

Hb 10.35,36: “Não rejeiteis, pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão. Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, possais alcançar a promessa”.
                                
1.3 O preço pago por Rebeca – Enganos, triângulos, segredos familiares e rivalidade entre irmãos. Rebeca só alimentou o que já existia, como uma escala de pecados na família da Aliança. Além de separar os irmãos e decepcionar o insensível patriarca Isaque; ela nunca mais veria o filho que muito amava, Jacó. A lei natural diz que se colhe o que se planta. Toda ação tem conseqüências boas ou ruins A Bíblia diz em Gálatas capítulo seis e versículos sete: “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Que sementes os pais e mães estão plantando em suas famílias nestes dias?

A Bíblia mostra Rebeca como sendo uma mulher com as seguintes características:

·   Bela – “E a donzela era mui formosa à vista, virgem, a quem homem não havia conhecido; e desceu à fonte, e encheu o seu cântaro e subiu” (Gn 24.16).
·   Trabalhadora “E, acabando ela de lhe dar de beber, disse: Tirarei também água para os teus camelos, até que acabem de beber” (Gn 14.19).
·   Hospitaleira – “Disse-lhe mais: Também temos palha, e muito pasto, e lugar para passar a noite” (Gn 24.25).
·   Decidida – “E chamaram Rebeca e disseram-lhe: Irás tu com este varão? Ela respondeu: Irei” (Gn 24.58).
·  Modesta E disse ao servo: Quem é aquele varão que vem pelo campo ao nosso encontro? E o servo disse: Este é meu senhor. Então, tomou ela o véu e cobriu-se” (Gn 24.65).

Apesar de todas estas características, sua precipitação e falta de confiança no Senhor acabou por trazer problemas em seu lar e assim, não somente ela, mas também Jacó acabaram colhendo as conseqüências de seus atos. C. H. Mackintosh (2001, pp. 238-240) escreve sobre as conseqüências tanto na vida de Jacó quanto na vida de Rebeca:

“Quem considerar a vida de Jacó, depois de ele fraudulentamente ter obtido a bênção de seu pai, verá que ele gozou de muito pouca felicidade neste mundo. Seu irmão decidiu mata-lo, para o evitar ele foi obrigado a fugir da casa de seu pai; seu tio Labão enganou-o, assim como ele havia enganado seu pai, e tratou-o com grande dureza; depois de vinte e um anos de servidão, ele foi obrigado a deixá-lo ocultamente, não sem correr o risco de ser reconduzido ao ponto de partida, ou assassinado por seu irmão irritado; apenas se tinham passado os seus temores teve que sofrer a baixeza de seu filho Rúben, em profanar a sua cama; em seguida teve que deplorar a traição e crueldade de Simeão e Levi para com os siquemitas; depois teve que sentir a perda da esposa amada; foi depois enganado por seus filhos e teve que lamentar o suposto fim prematuro de José; e, para completar tudo, foi obrigado pela fome a ir para o Egito, e ali morreu em terra estranha. [...] Quanto a Rebeca, ela teve de sentir todos os tristes resultados da sua astúcia. Sem dúvida, ela pensava que dirigia as coisas habilmente; mas, oh! Nunca mais viu Jacó, por causa da sua manobra! Quão diferente teria sido se ela tivesse deixado o caso inteiramente nas mãos de Deus. Esta é a maneira da fé agir e é sempre vencedora. “E qual de vós sendo solícito, pode acrescentar um côvado à sua estatura? (Lc 12.25). Nada ganhamos com a nossa ansiedade e os nossos projetos: Apenas excluímos Deus, e isso não é ganho. É um justo castigo da mão de Deus sermos obrigados a colher os frutos dos nossos planos; e não há nada mais triste do que ver um filho de Deus esquecer-se da sua condição e privilégios para tomar a direção dos seus interesses em suas próprias mãos. As aves dos céus, e os lírios do campo, podem muito bem ser nossos mestres quando esquecemos assim a nossa posição de dependência em Deus”.

2. A natureza de Esaú e de Jacó Jacó ansiava pela bênção, mas temeu a forma como seria alcançada e manifestou este sentimento para a sua mãe, Rebeca, que procurou tranqüilizá-lo, dizendo que a maldição viesse sobre ela, o que era um grande equívoco, pois não havia como tomar sobre si mesma algo que fosse dirigido contra Jacó. Isaque cuidaria para que Jacó recebesse o que merecia se tivesse descoberto este projeto ardiloso.            

Conforme já visto anteriormente, quando Rebeca expõe a Jacó seu plano para enganar Isaque, Jacó teme que seu pai viesse a distingui-lo de Esaú e assim a mentira seria descoberta. Jacó estaria desta forma reprovado por sua desonrosa atitude em relação a seu pai que já estava idoso e com seus olhos escurecidos e por esta causa ele traria sobre si maldição e não bênção (cf. Dt 27.16,18). A consciência é neste ponto a voz de Deus aos ouvidos de Jacó, e tendo ela se manifestado, ele seria responsável em sua atitude de obedecer ou não, ainda que sua mãe tenha se disposto a trazer a maldição sobre si. Jacó deveria tomar a sua decisão em direção à verdade, ainda que esta viesse, aparentemente, causar a perda das bênçãos futuras que ele tanto aspirava.

Sl 4.2-5: “Filhos dos homens, até quando convertereis a minha glória em infâmia? Até quando amareis a vaidade e buscareis a mentira? Sabei, pois, que o Senhor separou para si aquele que é piedoso; o Senhor ouvirá quando eu clamar a ele. Perturbai-vos e não pequeis; falai com o vosso coração sobre a vossa cama, e calai-vos. Oferecei sacrifícios de justiça, e confiai no Senhor”.

Sl 119.163: “Abomino e odeio a mentira; mas amo a tua lei”.

Pv 13.5: “O justo odeia a palavra de mentira, mas o ímpio faz vergonha e se confunde”.

Pv 14.5: “A verdadeira testemunha não mentirá, mas a testemunha falsa se desboca em mentiras”.

Ef 4.25: “Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros”.   

2.1 A natureza de Esaú (Hb 12.16,17) – Esaú tinha uma natureza que violava a santidade das coisas sagradas. Era um homem que disputava as lutas da vida baseada na mesquinhez de seu coração corrupto (Pv 24.2; 28.14). Maculou a idéia de família e por isso perde o seu lugar nela.

Hb 12.16,17: “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou”.

Esaú, sendo o primogênito de Isaque tinha o direito de primogenitura. Por causa deste direito, a ele estaria garantido a porção dupla dos bens de seu pai, a posição de chefe da tribo e da família e, além disto, ele teria a honra de, através de seus descendentes, receber o cumprimento da promessa de Deus feita a Abraão e Isaque, tornando-se assim o ancestral do Messias. Tudo isto, no entanto estava relacionado ao futuro, um futuro que só poderia ser contemplado através da fé no Deus de Abraão e Isaque e na certeza de que Ele seria fiel para cumprir as suas promessas. Esaú, no entanto não queria se firmar no futuro, mas sim no presente e este presente lhe mostrava que ele era apenas peregrino em uma terra que não lhe pertencia e sua possessão se baseava apenas numa “vaga promessa”. É dentro então da perspectiva de viver aquilo que o presente oferece e não o futuro porvir que Esaú toma por esposa duas mulheres hetéias, demonstrando assim o seu desprezo pelo Deus verdadeiro (cf. Gn 26.34,35; 27.46); e mais tarde, aceita trocar o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, pois mais importante que uma “vaga promessa” era a satisfação da sua carne e de suas necessidades. O autor de Hebreus se refere a este acontecimento e baseado nele trata Esaú como sendo “devasso”, ou seja, alguém que não se importou em corromper os princípios da Aliança de Deus com sua família, e, além disto, ele trata Esaú como sendo “profano”, uma palavra que traduz as atitudes daqueles que banalizam a fé no Deus de Israel colocando os valores terrenos acima dos valores celestiais, ou por assim dizer, fazendo comum aquilo que deve ser visto como precioso. O autor de Hebreus fala ainda do “lugar de arrependimento” que não foi encontrado por Esaú, “ainda que com lágrimas o buscou”. É importante deixar claro que tal “arrependimento” estava relacionado à perda das bênçãos, já que Isaque não poderia voltar atrás, e não exatamente, como poderia se pensar, às suas atitudes em relação a fé no Deus de Abraão e de Isaque.

2.2 A natureza de Jacó – A natureza de Jacó já era bem diferente. Era extravagante no seu coração, exuberante e até mesmo dado ao exagero. Ele chegou a mentir para conseguir a bênção, caso fosse o único caminho. Não que Deus aprovasse sua mentira, mas esse homem era qualquer coisa, menos apático. Parece que Deus gosta de homens e mulheres ativos; Salomão rei de Israel na sua maturidade disse: “Em todo trabalho há proveito, mas as meras palavras, porém, só levam a miséria” (Pv 14.23).

Jacó é o exemplo do homem que crê nas promessas de Deus, valoriza-as e anseia pelo cumprimento delas em sua vida, porém sua natureza carnal o domina completamente, e sendo assim, suas ações são segundo a carne e não segundo o espírito, o que o leva a se utilizar de artimanhas baseadas em sua esperteza para conseguir o que quer. A Bíblia, porém diz: “Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis” (Gl 5.16,17).
A escolha de Deus quanto a continuidade da linhagem da promessa se dar através de Jacó, sendo-lhe garantido que sua descendência teria proeminência sobre a descendência de Esaú, não tem nenhuma relação com o fato de Jacó ser um homem apático ou ativo; a escolha feita por Deus esta relacionada exclusivamente à sua soberana vontade e a eleição pela graça, e não por mérito algum, conforme fica claro nas palavras de Paulo descritas em Rm 9.11-12: “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor”. Deus não aprova de maneira nenhuma os métodos de Jacó e isto fica muito claro no fato de Jacó colher as conseqüências da mesma ao longo de toda sua trajetória.

2.3 O desejo de Jacó – O que deu sentido à jornada de Jacó são as transições e experiências diárias que ele tem com Deus. A vida de Jacó não era um amontoado de acontecimentos que surgiam a cada momento da história. Sua peregrinação era orientada pelo desejo de conseguir ser surpreendido pela espetacular providência de Deus. Sua biografia indica que estava interessado nos haveres de Deus.

A peregrinação de Jacó é orientada, em princípio, pelo desejo de alcançar aquilo que ele desejava, ainda que métodos escusos tivessem que ser utilizados e na seqüência pelas conseqüências das suas atitudes. A jornada de Jacó, no entanto passaria a ter sentido no fato de Deus utilizar-se das circunstâncias por ele vividas para disciplina-lo, de forma que, a duras penas, ele viesse a aprender a viver na dependência de Deus, e não na dependência de si mesmo e de seus métodos. A peregrinação de Jacó não era de maneira alguma orientada pelo desejo de conseguir ser surpreendido pela espetacular providência de Deus, no entanto, ao longo de sua jornada, é exatamente isto que acontece, a espetacular providência, misericórdia e graça de Deus vai se manifestando em sua vida apesar de si mesmo. Bendito seja o Senhor, eternamente pela sua infinita graça.

Ex 33.19: “Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer”.

Sl 31.21: “Bendito seja o Senhor, pois fez maravilhosa a sua misericórdia para comigo em cidade segura”.

Sl 116.5: “Piedoso é o Senhor e justo; o nosso Deus tem misericórdia”.

Sl 145.8,9: “Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia. O Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obras”.

Lc 1.54,55: “Auxiliou a Israel seu servo, recordando-se da sua misericórdia; como falou a nossos pais, para com Abraão e a sua posteridade, para sempre”.

3. Isaque é enganado (Gn 27.1-5) – O patriarca Isaque já estava idoso e com pouca capacidade para enxergar; chamou seu filho predileto Esaú para ser abençoado por ele, após o preparo de um saboroso guisado, Isaque lhe impetraria a bênção antes de sua morte.

É importante entender um pouco das instituições na antiguidade para interpretar com mais exatidão o texto bíblico. No antigo Israel, mesmo nos primórdios quando não havia ainda uma identificação das tribos com os nomes dos filhos de Jacó, o que existia em termos de estrutura política, econômica, religiosa e social era a organização tribal. A tribo era um grupo autônomo de famílias que se consideravam descendentes de um mesmo antepassado e tinha uma organização interna. A unidade de base é a família. A bêt’ab, a “casa paterna”, é a família que compreende não só o pai, sua esposa ou esposas e seus filhos não casados, mas também os filhos casados, com suas esposas e filhos e a criadagem. Várias famílias compõem um clã, a mishpahah. O conjunto das clãs constitui a tribo. Há duas palavras no hebraico para tribo: sebet ou matteh, que designam também o bastão de comando e o cetro real: A tribo congrega todos os que obedecem a um mesmo chefe (R. Vaux, 2004, p. 23-28). É dentro deste conceito que deve ser entendido então a bênção que seria outorgada por Isaque a Esaú.

3.1 O erro de se ensinar à mesa – Os antigos dizem que o pior momento para se disciplinar um filho, é na hora das refeições. Não há como sentar-se à mesa com quem se tenha algo pendente. Quando assim acontece, o lugar se torna um ambiente onde se compromete a disciplina à sorte da autoridade e da subserviência. Ao contrário do sentido primário da refeição, que é ter comunhão não somente com pessoas, mas também com Deus. O que havia entre Isaque e Esaú não era comunhão. Sua relação era pautada pela troca apenas, e não pelo amor natural de pai para com filho. Sua preferência por Esaú era porque ele atendia as suas expectativas de comilão. Os que amam descobrem companhia (‘com’ – significa partilhado e – ‘panhia’ vem da palavra que significa pão). Quando se quer a companhia de alguém, reparte-se o pão. Já o desejo de Isaque não era a companhia do filho, mas a vontade de comer nem que fosse pela última vez. Que os pais e mães de nosso tempo possam querer estar com seus filhos por um sentimento mais nobre (Sl 103.13; 2 Co 12.14).

As duas afirmativas em negrito no comentário acima são propriamente inapropriadas no contexto bíblico. Gênesis 25.28 diz: “E amava Isaque a Esaú, porque a caça era de seu gosto, mas Rebeca amava a Jacó”. Ainda que este texto possa ser interpretado como um amor interesseiro porque Esaú preparava apetitosas refeições para seu pai com suas caças, também pode significar que Isaque tinha predileção pela caça, pois valorizava muito esse tipo de atividade que era também um meio de subsistência. Os hebreus proviam suas necessidades alimentares mediante o cultivo de cereais e legumes ou mediante a criação de animais domésticos, não caçavam por puro esporte, conforme faziam outros povos do oriente, antes abatiam predadores e animais para consumo ou para proteger seus rebanhos (R. N. Champlin, 2004, p. 579). Todo contexto leva a crer que Esaú servia ao seu pai, dava uma atenção especial a ele e procurava satisfazer as necessidades dele. Ainda que houvesse algum tipo de troca, havia também entre Isaque e Esaú um relacionamento pai-filho que a Bíblia afirma ser de amor. Qualquer afirmativa mais incisiva sobre o tipo de amor que os unia é conjectura e não encontra respaldo bíblico.
O pedido de Isaque de uma refeição que fosse preparada por seu filho amado traz o sentido primário de preparação ritual do ambiente para entrega da bênção de Deus. O altar é a “mesa de Deus”, os pães da oblação são os “pães de Deus”. Deus é o Mestre Soberano de tudo, do homem e dos seus bens, sendo assim eventos envolvendo refeições para celebrar momentos marcantes e decisivos estão em toda a Bíblia e esse gesto ritual tem o sentido de uma ceia no qual Iahweh tomava parte. Este, provavelmente era o sentido do ambiente que estava sendo formado para que Esaú recebesse a bênção e não o sentido de “comer nem que fosse pela última vez”. Quando o desejo pela comida está acima do amor paterno e isso é tudo o que um homem quer, tal homem pode ser qualificado como glutão, e isso é uma praga descrita e rejeitada pela Bíblia (cf. Lc 21.34; Fp 3.19; 1 Pe 4.3). Este não era o caso de Isaque; Deus já havia estabelecido uma aliança com ele desde antes do seu nascimento (cf. Gn 17.19), e sendo assim o seu pedido a Esaú se alinha, em primeira instância, ao sentido primário de preparação ritual do ambiente para entrega da bênção de Deus e não a qualquer outro sentido.

3.2 Isaque enganado pela roupa – Com as vestes de gala de seu irmão, junto com peles de cabrito, o plano para enganar Isaque estava pronto. Agora cabia a Jacó desempenhar bem o seu papel aproximando-se de Isaque. Diante deste quadro não se ouve ou vê nenhum deles buscando a orientação divina, mas cada um procurando fazer a sua parte da melhor maneira para que os seus objetivos fossem alcançados. Quando a orientação divina é deixada de lado e faz-se o que o coração deseja, alcançam-se os frutos amargos, pois as concupiscências que habitam no homem não podem produzir frutos que agradem a Deus. Pensava Rebeca que estava fazendo o bem, mas a natureza humana, quando age independente de Deus, só comete engano (Gl 5.17; Jo 6.63).

Algo precisava ser feito para mascarar a “aparência”, confundir Isaque e conseguir por fim ao que se pretendia. Quando falha o discernimento espiritual, a carne pode ser confundida e enganada com mais facilidade. Miquéias 7.6 lembra que a inimizade pode estar presente até mesmo dentro de casa: “Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa”. Mesmo com a própria família é necessário portar-se com prudência.

Jo 6.63: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida”.

Jo 7.24: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça”.

Rm 8.5: “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito”.

3.3 Isaque é enganado pelo cheiro – O odor característico de uma pessoa apega-se à sua veste, e Rebeca precisava roubar uma roupa de seu filho Esaú, pois o mesmo já era casado. As roupas deveriam ficar em sua tenda. A princípio Jacó ainda tentou ouvir a voz da sua consciência “Porventura me apalpará o meu pai, e serei em seus olhos enganador; assim trarei eu sobre mim maldição e não bênção” (Gn 27.12). Mas não foi o suficiente para frear o seu intento. A maioria dos pecados ocorrem quando se ouve a voz errada. Muitas vezes essas vozes são de pessoas bem próximas, em quem se confia plenamente ao ponto de cometer um erro por sua orientação. Há de se ter cuidado para que as circunstâncias não venham induzir à ignorância nos princípios bíblicos e às atitudes que desagradem a Deus e ofendam o próximo. O salmista já dizia: “O conselho do Senhor permanece para sempre; os intentos do seu coração, de geração em geração” (Sl 33.11).

A afirmação em negrito no comentário acima também é inapropriada. Gênesis 27.15 diz: “Depois tomou Rebeca os vestidos de gala de Esaú, seu filho mais velho, que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho menor”. Como já foi dito anteriormente, o conceito de família no antigo oriente não é o mesmo da atualidade. Não se pode dizer que porquê Esaú já era casado, as roupas utilizadas por Rebeca estavam em outro lugar. Pode ser que sim, pode ser que não, mas o texto de Gn 27.15 indica que Rebeca tinha consigo os vestidos de gala de Esaú. Para Isaque o cheiro de Esaú era como o cheiro do campo (cf. Gn 27.27), um cheiro que lhe agradava. Quando sentiu o cheiro das vestes do seu filho, mesmo não reconhecendo a voz, achou se tratar mesmo de Esaú.
Ofertas queimadas no altar do Senhor sobem como cheiro suave (cf. Ex 29.25) e é necessário todo cuidado para que Deus receba a adoração proposta. Os cristãos, como filhos amados de Deus devem ter o cheiro de Cristo, o cheiro de vida que deve ser sentido por todos aqueles com quem se tem contato.

2 Co 2.14-17: “E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo, e por meio de nós manifesta em todo o lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo. Porque nós não somos como muitos falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus”.

Nem Jacó e nem Rebeca ouviram a voz da consciência, pois a preocupação de Jacó foi de parecer um enganador aos olhos do pai, enquanto planejavam tudo diante dos olhos de Deus. Os cristãos não devem se esquecer do que diz a Palavra de Deus:

Sl 11.4: “O Senhor está no seu santo templo, o trono do Senhor está nos céus; os seus olhos estão atentos, e as suas pálpebras provam os filhos dos homens”.

Referências Bibliográficas:
C.H. Mackintosh, Estudos Sobre o Livro de Gênesis, 2001, 3ª Ed., Depósito de Literatura Cristã, Diadema, SP.
L. R. Harris, JR Archer, L. Gleason, B. K. Waltke, Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, 1998, Vida Nova, São Paulo, SP.
R. N. Champlin, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, 2004, Hagnos, São Paulo, SP.
R. Vaux, Instituições de Israel no Antigo Testamento, 2004, Vida Nova, São Paulo, SP.